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Gibis na alfabetização

Linguagem visual e características lúdicas fazem das histórias em quadrinhos bons instrumentos para a alfabetização, mas nem sempre eles foram bem vistos dentro da escola

As histórias em quadrinhos contribuem para despertar o interesse pela leitura e pela escrita nas crianças e para sistematizar a alfabetização. Como as HQs em geral unem palavra e imagem, elas contemplam tanto alunos que já leem fluentemente quanto os que estão iniciando, pois conseguem deduzir o significado da história observando os desenhos. A curiosidade em saber o que está escrito dentro dos balões cria o gosto pela leitura e, assim, os gibis podem ter grande eficácia nas aulas de alfabetização.

Se hoje essa visão é consagrada entre professores e pesquisadores, nem sempre foi assim. Os quadrinhos usados atualmente em sala de aula eram vistos como concorrentes dos livros de alfabetização, entendidos, portanto, como uma distração prejudicial ao aprendizado. “Os quadrinhos apareceram com mais frequência dentro da escola a partir da metade do século passado. Primeiro, porque quase não existiam. Segundo, porque havia esse preconceito contra eles”, diz Maria Angela Barbato Carneiro, professora titular do Departamento de Fundamentos da Educação e coordenadora do Núcleo de Cultura e Pesquisas do Brincar da Faculdade de Educação da PUC-SP.

Falta de hábito
Maria Angela acredita que, dentro da escola, os professores ainda usam predominantemente muitos materiais mais tradicionais, como é o caso do livro didático, em detrimento de outros recursos. “Penso que o professor não está habituado com outros procedimentos – como um jornal, uma revista –, e o fato de não estar habituado não lhe traz segurança”, diz. Outro ponto que pode inibir a presença das HQs na alfabetização é o entendimento de que os gibis são meros passatempos e, por isso, serem deixados de lado por conta da crença de que eles serão lidos pelas crianças em casa de todo modo.

Lucinea Rezende, professora do Departamento de Educação da Universidade Estadual de Londrina (UEL-PR), que desenvolve e orienta trabalhos na área de formação de leitores, concorda que ainda que se tenha avançado bastante na direção de usar múltiplas formas de leitura em sala de aula, fugindo do monopólio do livro didático, ainda se está voltado predominantemente para o texto escrito. “Todos os gêneros que empregam outras linguagens entram devagarinho nas salas de aula”, diz.

Os benefícios da história em quadrinhos para a educação, em particular no ensino fundamental e na alfabetização, são oficialmente reconhecidos. As HQs fazem parte do Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE), que possibilita a professores e alunos o acesso a obras distribuídas em escolas públicas. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) também incentivam o uso de quadrinhos e indicam que nas bibliotecas é necessário que estejam à disposição dos alunos textos dos mais variados gêneros (livros de contos, romances, jornais, quadrinhos, entre outros). O PCN lista ainda a HQ como um gênero adequado para o trabalho com a linguagem escrita.

“Alguns professores olham para a HQ e veem algo distante. Assim não têm entusiasmo, não conseguem comentar sobre aquilo com os alunos”, acredita José Felipe da Silva, professor de Libras (Linguagem Brasileira de Sinais) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) – a disciplina é oferecida a diversos cursos de graduação na Universidade. Ex-professor do ensino fundamental e colecionador de HQs, Felipe da Silva afirma que os quadrinhos foram um impulso para ele mesmo se alfabetizar quando criança. Na escola em que dava aula, na rede municipal de Natal, costumava fazer exposições com revistas e bonecos dos personagens das HQs para atrair a atenção dos alunos.

Imaginação e fantasia
Luciana Begatini Silvério, professora de pós-graduação na área de educação, lembra ainda que o PCN pede que o leitor seja formado como alguém capaz de ler, compreender e interagir com a leitura – entendida não só por meio de palavras e frases, mas, também, por diferentes tipos de linguagem. Com os quadrinhos, a criança em fase de alfabetização que ainda não domina a leitura e a escrita do alfabeto consegue fazer uma leitura competente com o recurso das imagens. “Além disso, a criança precisa muito ser formada no concreto. E nas HQs, os recursos de imagens, expressões dos personagens, letras, metáforas visuais ajudam a ter maior compreensão do que ela está lendo”, afirma.

Entre os elementos que se reconhecem como mais atrativos para as crianças nas histórias em quadrinhos estão aspectos lúdicos, como cores, onomatopeias, personagens e traços. Na dissertação de mestrado de Luciana Begatini Silvério, defendida em 2012 – orientada por Lucinea Rezende, na UEL –, ela fez uma pesquisa de campo com professores e alunos da rede municipal da cidade Primeiro de Maio, no Paraná. A pesquisa não foi feita com alunos em alfabetização e, sim, com estudantes do segundo ciclo do EF. Dos 58 alunos participantes, 30 listaram as HQs entre seus gêneros de leitura preferidos. E três, apenas, afirmaram não gostar de HQs (dois deles alegaram que os quadrinhos são para serem lidos em casa).

Luciana Novello, professora do 1o ano do EF no Colégio Ofélia Fonseca, em São Paulo, destaca justamente o caráter lúdico como um dos elementos de atratividade dos quadrinhos. “As histórias em geral são divertidas, somadas ao colorido das imagens. E temos gibis com histórias bem curtas, de uma página, e para a criança ler fica uma leitura mais prazerosa”, diz. Além disso, a professora afirma que, entre seus alunos, o gibi já faz parte do cotidiano fora da escola: por isso, a familiaridade com os personagens por si só já desperta o interesse das crianças.

Os quadrinhos podem, ainda, ser trabalhados com as crianças em idade de alfabetização em relação com o brincar – como, por exemplo, uma forma de trabalhar a imaginação, o “faz de conta”. “Alguns quadrinhos fazem parte da literatura infantil, e a literatura infantil se alia à brincadeira justamente através do simbólico, da fantasia. Quando você permite que atuem a imaginação e a fantasia da criança é possível que isso faça parte das atividades lúdicas”, diz Maria Angela Barbato Carneiro.

Corrigindo a Mônica
Professor da Escola Polo Municipal Venita Ribeiro Marques, em Aral Moreira (MS), Gilson Matoso considera a HQ uma das melhores maneiras para chamar a atenção das crianças. Pós-graduado em Mídias na Educação pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), ele costuma aliar o trabalho com os quadrinhos a datas especiais – como as festas juninas. E, no segundo ano do EF, trabalha também a gramática. Personagens conhecidos das HQs da Turma da Mônica, de Mauricio de Sousa, o Cebolinha troca o “R” pelo “L” e o Chico Bento tem o registro da sua fala acaipirada, com erros ortográficos. “Fazemos exercícios em que corrigimos algumas palavras dos personagens, passando para a norma culta”, diz Matoso.

Antes de o aluno desenvolver a leitura das palavras e dos desenhos em si – como personagens e cenários – há outros elementos típicos das HQs que as crianças aprendem a ler e a interpretar. “O texto está ali, não podemos ignorá-lo, mas mesmo que as palavras escritas sejam estranhas para o aluno, ele vai fazer a leitura visual­ da narrativa e vai entender que aquilo pode ser uma fala, um grito”, diz José Felipe da Silva.

A leitura do texto em si é facilitada ainda por conta do tipo de letra normalmente grafada dentro dos balões, que é a letra em bastão. Como na maior parte das escolas, a professora Luciana Novello explica que no Colégio Ofélia Fonseca a letra bastão é usada desde o ensino infantil até o primeiro ano, quando é introduzida então a letra cursiva, entre o final do primeiro ano e o segundo ano do EF.

Lucinea Rezende, da UEL, afirma que é importante ainda ter como premissa o tratamento da leitura como algo a ser construído continuamente. Ela ressalta que isso é válido não somente na alfabetização e no ensino fundamental, mas até mesmo na universidade. “Alguns estudantes gostam de ler, outros, não – ou porque não puderam ou porque não se interessaram suficientemente. Nesse caso, a gente precisa usar todos os recursos possíveis: se a criança já lê HQ, o que a escola pode fazer para a criança ler melhor, explorar outras possibilidades?”, questiona. A professora e pesquisadora defende que a escola deve trabalhar, sempre, com uma boa multiplicidade de textos, incluindo as HQs.

Além disso, Lucinea lembra que os alunos acabam desenvolvendo gostos por diferentes tipos de leitura. Por isso, a escola precisa se apropriar de todos os recursos possíveis. “Precisamos pensar ainda o que o professor está almejando quando trabalha a leitura. Quanto à HQ, por exemplo, o que se consegue ver nesse gênero literário? Pensamos na palavra, na imagem, nos personagens?”. A reflexão sobre os materiais usados pelos educadores deve levar em conta, afirma Lucinea, não somente questões da linguagem, mas também, de fundo social das narrativas. “É a partir dessa compreensão que se devem usar as HQs na alfabetização. Alfabetizar é trazer para o mundo da escrita, dos números, para que o aluno possa dialogar e interagir com o mundo”, explica.

Produção do texto
Com as HQs pode-se ainda propor a construção de histórias. “Para a produção de texto os alunos em geral gostam muito dos quadrinhos, por conta do desenho. É uma boa ferramenta para a sequência didática, em que é preciso ter um resultado final da produção deles”, diz Gilson Matoso.

Além de desenhar, pode-se tra­balhar com o texto produzido sobre histórias já feitas, com os ba­lões em branco. “Nesse caso o objetivo não é pensar em inventar a história, mas na escrita, na língua”, diz Luciana Novello, do Ofélia Fonseca. “No 1o ano, a principal ideia do uso do gibi é a aquisição de leitura e escrita. E, eventualmente, um trabalho com arte e ilustrações”, completa.

A professora afirma que os gibis são trabalhados em aula como um gênero textual. Em momentos de leitura planejada, cada aluno escolhe um exemplar para ler – seja ela leitura convencional (fluente) ou não. “Também se lê em dupla, um leitor mais fluente com outro menos fluente”, explica.

Gêneros e interdisciplinaridade

O quadrinho é um gênero em si mesmo, mas, dentro dele, há subgêneros – como romances adaptados e até reportagens em forma de HQ, o que se torna uma vantagem para apresentar outros gêneros de narrativa. “Claro que é preferível ampliar a leitura dos gêneros para outros textos, não somente os quadrinhos. Mas é importante que o professor apresente uma diversidade de gêneros de HQ”, diz José Felipe da Silva, da UFRN.

Além dos gêneros, as diferentes temáticas dos quadrinhos também são um elemento importante em sala de aula – e podem ser trabalhadas tanto com crianças em idade de alfabetização quanto com as maiores. “O foco de minha pesquisa foi buscar a interface entre HQ e a literatura, mas há outros aspectos transversais também, como noções de higiene, temas culturais e históricos”, diz Luciana Begatini Silvério.

Se na alfabetização os quadrinhos podem atrair a atenção das crianças para ler e escrever, nessa mesma fase as HQs podem servir como suporte ou tema para desenvolver outras habilidades – como adivinhas. “Existem também várias atividades que podem ser feitas com a linguagem dos quadrinhos, como noções abstratas de química. Pensamos no Asterix e na sua poção mágica, por exemplo, à qual podemos relacionar uma receita – um suco de laranja – e fazer essa brincadeira”, diz Maria Angela Barbato Carneiro, da PUC-SP.

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Fonte: Revista Educação Uol

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Jorn. FERNANDA MACHADO

Assess. de Imprensa e Comunic. do Sinpro Goiás

 

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8,5 milhões de alunos estão atrasados duas séries na escola

Mais de 8,5 milhões de alunos brasileiros estão atrasados pelo menos dois anos na escola. Os dados são do Censo da Educação Básica 2013 e mostram que 6,1 milhões de estudantes do ensino fundamental e 2,4 milhões do ensino médio não estão na série ideal.

Nessas duas etapas de ensino o país tinha 37,3 milhões de matrículas em 2013. São crianças e adolescentes que reprovaram, abandonaram a escola ou já foram alfabetizados com atraso.

“Nós temos esse descompasso, que é a falta de correspondência entre e a idade e o ano escolar. A responsabilidade de solucionar esse problema é do governo federal e dos governos estaduais e municipais, junto com a sociedade. Não é só um problema de gestão do setor público, é uma questão das prioridades que a sociedade estabelece”, afirma Maria Beatriz Luce, secretária de Educação Básica do MEC (Ministério da Educação).

O ideal é que o aluno tenha 6 anos no 1º ano do ensino fundamental e complete 14 anos no 9ª ano. Já as três séries do ensino médio devem ser feitas entre os 15 e os 17 anos. A realidade, porém, é que 21% dos estudantes do fundamental e 29,5% do ensino médio não estão na sala correta.

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Fonte: Uol educação

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Jorn. FERNANDA MACHADO

Assess. de Imprensa e Comunic. do Sinpro Goiás

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Atrasar aprovação do Plano Nacional de Educação é jogar contra o Brasil

Ainda não foi dessa vez que o Plano Nacional de Educação (PNE – Projeto de Lei 8035/10), que tramita no Congresso Nacional há três anos, passou por votação no plenário da Câmara dos Deputados. Sob a alegação de que a falta de consenso sobre uma medida provisória atrapalhou a pauta, os parlamentares adiaram a decisão sobre o tema nessa quarta-feira (14).

Com 14 artigos, 21 metas e 177 estratégias, o PNE estabelece diretrizes a serem cumpridas pelo Brasil para oferecer um ensino público de qualidade. A expectativa é que volte à pauta na próxima quarta (21).

Entre os avanços, o programa determina a destinação de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) para a educação pública, quase o dobro dos atuais 5,3%. Com isso, o plano pretende erradicar o analfabetismo, universalizar a educação infantil, o ensino fundamental e médio e elevar para 12 anos de estudo a escolaridade média da população entre 18 e 29 anos. Pretende ainda formar mais de 60 mil mestres e 25 mil doutores.

Todas essas metas tem como base a valorização dos profissionais da educação. Os professores terão de ter a equiparação salarial com outros servidores que possuam e mesma escolaridade. E os demais trabalhadores das escolas deverão ser concursados, passar por um processo de formação e ter um plano de carreira.

Justamente por trazer esses avanços e estabelecer uma estratégia para melhorar a qualidade do ensino, a votação do PNE é tão importante. “Cada vez que adiam a votação, os parlamentares atrasam a existência de um norte para que o Brasil possa melhorar o ensino. Com isso, criam-se expectativas, tensões, porque o tempo vai se esgotando, daqui a pouco teremos recesso do Congresso, eleições, a Copa. A votação deve ser prioridade na agente dos deputados”, alertou o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Roberto Franklin de Leão.

Sem unanimidade – Apesar dessas conquistas, o dirigente da CNTE aponta que, ao deixar a Câmara e seguir para o Senado, o projeto de lei do Plano Nacional de Educação sofreu alterações prejudiciais.

De acordo com Leão, os trabalhadores do setor pressionarão os parlamentares para que modifiquem quatro pontos.

O primeiro deles trata da destinação de recursos públicos. A última das metas do PNE determina 10% do PIB para a educação pública, mas, o corpo da lei, que tem grau maior, abre a possibilidade de o dinheiro ser repassado para instituições privadas que atuem no setor por meio de convênios.

Caso, por exemplo, de creches mantidas por instituições filantrópicas ou mesmo bolsas de estudos em universidades privadas.

O segundo é a orientação do governo federal para retirada da estratégia 20.10 do projeto de lei. O item eleva os recursos destinados pela União para implementação do Custo Aluno Qualidade (CAQ) e do Custo Aluno Qualidade Inicial (CAQI). Na prática, aumenta o investimento em estados e municípios com menor orçamento e maior dificuldade para oferecer um ensino de qualidade.

“Não é bom que um governo popular e democrático intervenha dessa forma para retirar um ponto tão importante”, avalia Leão.

O terceiro item é a estratégia da bonificação para escolas que melhorarem o desempenho no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). O indicador mede os dados de aprovação escolar e das notas dos alunos.

Para o dirigente, a medida estabelece uma política que não é solidária e ainda retira do Estado para jogar nas mãos dos profissionais da educação a única responsabilidade pela melhoria do ensino.

“Os profissionais precisam ter carreira e não bônus eventuais de avaliação, que sequer levam em conta fatores como extra escola, como condições sociais da criança e condição familiar. A educação de qualidade deve ser construída com base na solidariedade e na democracia. Além disso, como aquelas que não atingirem o índice poderão investir para melhorar, se não receberam o bônus?”, questiona.

O último ponto foi a supressão de uma das diretrizes que tratava da promoção da igualdade racial, regional, de gênero e de orientação sexual, por conta da pressão da bancada religiosa do Congresso.

Por conta dessas intervenções, Roberto Leão afirma que os trabalhadores da educação não abrirão mão de lutar pelo projeto original. “Consenso houve sobre o texto que passou pela Comissão Especial da Câmara e é esse que iremos defender”, enfatizou.

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Fonte: CUT

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Jorn. FERNANDA MACHADO

Assess. de Imprensa e Comun. do Sinpro Goiás

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Contee participa de debate sobre a estratégia global para a educação

A coordenadora-geral da Contee, Madalena Guasco Peixoto, o coordenador da Secretaria de Finanças, Fábio Eduardo Zambon, e a coordenadora da Secretaria de Gênero e Etnia, Rita Fraga, representaram a Contee no XI Congresso da Federação Nacional da Educação (FNE), de Portugal, realizado neste último fim de semana.

A atividade, que reelegeu João Dias da Silva como secretário-geral da entidade para os próximos quatro anos, contou com a presença de representantes de todos os estados da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), à qual a Contee é filiada. Os cerca de 500 delegados reunidos na cidade portuguesa de Matosinhos ainda aprovaram duas resoluções: a primeira pelo fim da austeridade e por políticas de crescimento e emprego; e a segunda, pelo reforço da Europa social através da participação nas eleições de 25 de maio, aprovada por unanimidade. Além disso, foi votado o Plano de Ação Sindical para a nova gestão.

Antes do congresso, na última sexta-feira (16), foi realizado um seminário internacional em que as delegações internacionais promoveram uma reflexão sobre os efeitos da crise na educação. A coordenadora-geral da Contee apresentou uma síntese do panorama educacional no Brasil, com destaque para o perverso processo de financeirização e desnacionalização do ensino, bem como para a tramitação de matérias importantes, como o Plano Nacional de Educação (FNE) e o Instituto Nacional de Supervisão e Avaliação do Ensino Superior (Insaes).

Segundo a FNE, a perspectiva da CPLP sobre os efeitos da crise na educação esteve a cargo de Maria Arminda Bragança, que apresentou alguns números, enfatizando os altos níveis de abandono escolar, os baixos padrões de escolaridade e as disparidades de gênero no domínio do acesso à escola. O debate concluiu pela necessidade de todas as organizações sindicais afinarem uma estratégia global para definir aquela que deverá ser a agenda pós-2015 para a educação.

 

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Fonte: Contee

 

 

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Jorn. FERNANDA MACHADO

Assess. de Imprensa do Sinpro Goiás

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Secretário de Formação e Analista de Mídias Sociais, ambos do Sinpro Goiás, participam do evento

O Secretário de Formação, o Prof. Railton Nascimento e a Analista de Mídias Sociais, Déborah de Sousa, ambos do Sindicato dos Professores do Estado de Goiás (Sinpro Goiás) e também, a Coordenadora da Secretaria de Comunicação Social da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino (Contee), Cristina de Castro, participam a partir de hoje, 16, do 4º Encontro Nacional de Blogueiros e Ativistas Digitais, que acontece no Hotel Braston, em São Paulo. O evento, que tem a expectativa de receber cerca de 500 participantes de todo o país, acontece até domingo, 18.

O encontro contará com a participação do ex-presidente Lula, que ainda nesta manhã de sexta-feira, deverá tratar de vários temas, como o papel da mídia tradicional, as eleições de 2014 e a importância do ativismo digital.

Segundo o Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, diante das manipulações da mídia monopolizada, Lula tem dado grande importância aos que atuam na internet, tento concedido em 2010, em pleno Palácio do Planalto, a primeira entrevista coletiva na história do Brasil a um grupo de blogueiros e participado, em junho de 2011, do II Encontro Nacional dos Blogueiros, em Brasília. Em abril passado, o ex-presidente voltou a falar com os blogueiros, numa segunda entrevista coletiva que também gerou violenta reação da velha mídia.

Hoje ainda, 16, será promovido um seminário internacional que se propõe a dar continuidade aos debates do 1º Encontro Mundial de Blogueiros realizado em outubro de 2011, em Foz do Iguaçu (PR). Seis conferencistas internacionais discutirão mídia, poder e América Latina, seguido de um debate sobre a luta pela democratização da mídia no Brasil.

No sábado, 17, a proposta é retomar a experiência do primeiro encontro nacional realizado em 2010. As atividades serão iniciadas com uma discussão sobre a juventude e a força das novas mídias e seguidas por “desconferências”, com formação por grupos de debates, nos quais ativistas convidados e todos os participantes terão vez e voz para relatar suas experiências e participar das discussões. Após as desconferências, os grupos voltam a se reunir para discutir a mídia e as eleições de 2014 e, na sequência, haverá uma festa de confraternização.

Já no domingo, os trabalhos serão sobre a Carta de São Paulo e as ações do movimento de blogueiros e ativistas digitais.

 

PROGRAMAÇÃO

 

Data: 16/5 –  6ª feira

9h — Abertura

10h — Debate: Mídia, poder e contrapoder

Ignácio Ramonet – fundador do jornal Le Monde Diplomatique (França);

Pascual Serrano – criador do sítio Rebelion (Espanha);

Andrés Conteris – Integrante do movimento Democracy Now (Estados Unidos);

Dênis de Moraes – professor da Universidade Federal Fluminense.

 

14h — A mídia na América Latina

Osvaldo Leon – integrante da Agência Latina Americana de Informação (Alai-Equador)

Damian Loreti – professor (Argentina)*;

Iroel Sánchez – blogueiro cubano;

Emir Sader – sociólogo e cientista político.

 

17h — A luta pela democratização da mídia no Brasil

Luiza Erundina – coordenadora da Frente Parlamentar pela Liberdade de Expressão (Frentecom)*;

Rosane Bertoti – coordenadora do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC);

Laurindo Lalo Leal Filho – professor da USP e ex-ouvidor da Empresa Brasil de Comunicação (EBC);

Luciana Santos – vice-presidente nacional do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e deputada federal por Pernambuco.

 

Data: 17/5 – Sábado

9h — A juventude e a força das novas mídias

Pablo Capilé – Fora do Eixo;

Renato Rovai – revista Fórum;

Beá Tibiriçá – Coletivo Digital

14h — Troca de experiências sobre a blogosfera e o ciberativismo;

19h — Festa de confraternização.

 

Data: 18/5 – Domingo

10h — Plano de ação do movimento nacional de blogueiros;

Definição do local do V Encontro Nacional, em 2016;

Aprovação da Carta de São Paulo;

Eleição da nova comissão nacional organizadora.

 

Convidados para iniciar os debates das desconferências:

  • Marco Aurélio Weissheimer (RS);
  • Esmael Morais (PR);
  • Zé de Abreu (RJ)*;
  • Tarso Cabral (PR);
  • Leonardo Sakamoto (SP);
  • Cynara Menezes (DF);
  • Miguel do Rosário (RJ);
  • Gilberto Maringoni (SP);
  • Fernando Brito (RJ)*;
  • Fábio Malini (ES);
  • Lola Aronovich (CE);
  • Daniel Pearl (CE);
  • Altino Machado (AC);
  • Diógenes “Jimmy” Brandão (PA);
  • Altino Machado (AC);
  • Marcos Vinicius (GO)*;
  • Jean Wyllys (RJ)*;
  • Túlio Viana (MG);
  • Lucio Flávio Pinto (PA);
  • Claudio Nunes (SE)*;
  • Vito Giannotti (RJ);
  • Oldack Miranda (BA)*;
  • Douglas Belchior (SP);
  • Edmilson Costa (SP);
  • Daniel Menezes (RN)*;
  • Deodato Ramalho (CE);
  • Beto Mafra (MG);
  • Cido Araujo (SP);
  • Bemvindo Siqueira (RJ).

 

 

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Fonte: Contee / Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé

 

 

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Jorn. FERNANDA MACHADO

Assess. de Imprensa e Comunic. do Sinpro Goiás

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Seminário Jurídico Nacional da CTB

Seminário Júridico

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A Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), irá realizar nos dias 22 e 23 de maio, no Hotel Braston, em São Paulo, o Seminário Jurídico Nacional.

O evento terá como tema principal, o Direito Sindical e do Trabalho sob um viés classista.

 

 

Confira aqui, a programação.

Inscrições aqui ( R$ 100,00)

Localização: Ver mapa

 

 

Para mais informações: (11) 3106-0700

 

 

 

Jorn. FERNANDA MACHADO

Assess. de Imprensa do Sinpro Goiás

 

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O 13 de maio e o brado dos(as) negros(as) contra a escravidão e pela cidadania

Voltaire – filósofo francês do século XVIII, considerado um das mais autorizadas vozes do iluminismo – bradava que só tinha esperança no clamor popular.

Os acontecimentos da vida social, que correu e corre nos séculos seguintes – XIX, XX e XXI -, cuidaram de dar razão a esta ilustrada metáfora, a começar pela revolução francesa, que rebentou logo depois de ela ser lançada à posteridade por todo o sempre, bem como todos os movimentos sociais que a esta se sucederam e que se contam às centenas.

Apesar de muitos assim não considerarem, a Lei Áurea, de 13 de maio de 1888, que, portanto, acaba de completar 126 anos, simboliza o coroamento da primeira etapa do multissecular clamor social dos milhões de negros(as),  trazidos(as) e/ou transportados(as) à força das armas e da crueldade para o Brasil nas fases colonial e imperial, do início do século XVI ao final do XVIII; clamor ao qual se associaram retumbantes vozes, como a do imortal poeta Castro Alves. Esta lei pôs fim à odiosa, caduca e desumana legalização da escravidão.

Se é fato que a efetiva libertação dos(as) negros(as) ainda não se consumou com a conquista da cidadania plena, como provam os persistentes atos de racismo, aqui e alhures, demonstrados por palavras, gestos e estatísticas, como as do mundo e do mercado de trabalho, as educacionais e as carcerárias, a perseverança destas chagas sociais não pode servir de mote para se desqualificar o simbolismo da Lei Áurea, pois que isto significaria negar o eco dos retumbantes gritos dos quilombos, personificados em Zumbi do Palmares, de Luís Gama, que simbolizou a luta pelo abolicionismo nas últimas décadas do século XIX, e dos milhares que morreram em busca da liberdade, ao longo de quase quatro séculos de escravidão; gritos que percorrem, de forma infinita e atemporal, o tempo e o espaço.

O poeta Castro Alves, no seu poema “O navio negreiro”, de marcas indeléveis na luta contra o tráfico negreiro e, por conseguinte, da escravidão, criada e mantida por ele, diz que os negros escravizados nem sequer eram livres para morrer.

Com a abolição oficial da escravatura, em 1888, não veio a conquista da liberdade plena, que é corolário da cidadania, sendo que uma não existe sem a outra; no entanto, ao menos, os negros tornaram-se livres para nascer e para morrer, parafraseando o poeta; o que, convenha-se, não é pouco para quem durante mais de 350 anos nem a isso tinha direito.

Fausto, lendário personagem da Idade Média – magnificamente, retratado pelo romancista e poeta alemão Goethe -, que fez um pacto com Mefistófeles (Lúcifer) para manter a eterna juventude, dizia, com a sua soberba ímpar, que os vestígios de seus dias na Terra passados nem em milênios seriam apagados.

O mesmo se pode e se deve dizer da escravidão, cujas marcas de desumanidade em tempo algum serão apagadas.

O poeta alemão do século XVIII Heinriche Heine – ferrenho adversário do tráfico negreiro e de sua face indissociável, a escravidão – e que inspirou Castro Alves -, em seu colossal poema “O navio negreiro”, escrito no início da segunda metade do século XIX (1853), que tem como tema o tráfico e como destino o Porto do Rio de Janeiro, dá a exata dimensão do que este comércio representava e como os(as) negros(as) eram vistos e tratados.

Vide-o:

O navio negreiro

I

Sr. Van Koek, o sobrecarga,

Mergulha em contas na cabine,

Calcula os gastos da empreitada,

Depois o lucro ele define.

“Pimenta e pelas de borracha,

Marfim do bom e ouro em pó –

Tonéis e caixas – mas eu acho

A carga escura bem melhor.

Seiscentos negros lá do Níger

Que barganhei no Senegal;

Tendões de aço e pele rija,

Tal qual estátuas de metal.

Troquei por caixas de birita,

Contas de vidro e armamento;

Caso a metade sobreviva,

Hei de lucrar uns mil por cento.

Se ao cais do Rio, em bom estado,

Levar trezentos, venderei

Cada cabeça a cem ducados

À Casa Gonçalves Pereira.”

De súbito, a meditação

Do sobrecarga é interrompida;

O médico da embarcação,

Van der Smissen, o requisita.

Um narigudo macilento

De cara toda enverrugada –

Van Koek pergunta: “Aí, barbeiro,

A quantas anda essa negrada?”

“Estou aqui nesse tocante”,

Diz o doutor com gravidade,

“Cresceu a nível preocupante

A taxa de mortalidade.

Em média perco dois por dia,

Mas hoje sete já morreram,

No livro-caixa eu fiz a lista:

São quatro machos e três fêmeas.

Examinei bastante os corpos,

Pois amiúde é negro esperto

Apenas fingindo de morto,

Pra se soltar no mar aberto.

As gargalheiras e grilhões

Eu removi; mandei jogar,

Assim que o dia clareou,

Os tais cadáveres ao mar.

Mal afundaram no oceano,

Já os abocanham os tubarões –

Ah, como gosta de africano

A clientela de glutões!

As feras seguem o navio

Desde que entrou em mar profundo,

E com que gozo doentio

Farejam o cheiro de um defunto.

É até engraçado observá-los

Estraçalhando a carne humana –

Uns mordem os braços, outros rasgam

Pernas e tronco, e com que gana!

E quando acabam de comer,

Todo o cardume olha pra mim,

Como se fosse agradecer

Por mais um matinal festim.”

Findo o relato, o tal Van Koek

Suspira fundo: “Ora, eu preciso

Saber depressa o que fazer

Para estancar o prejuízo!”

Diz o doutor: “Morrem os negros

Por culpa própria nos porões,

Empesteando-o com doença

Que trazem dentro dos pulmões.

De tédio eles também se afundam,

Pois não se ocupam de trabalhos;

Talvez ar fresco, dança e música

Seja o remédio pra curá-los”.

Van Koek se agita: “Boa dica!

Este barbeiro é mesmo grande,

Tão sábio quanto o Estagirita

Que deu lições para Alexandre.

O diretor da Sociedade

De Criadores de Tulipa

É esperto mas nem a metade –

A tua inteligência é ímpar.

Vamos à música! A negrada

Há de dançar lá no convés.

Quem não gostar de rebolar

Mando chicotear os pés”.

II

No azul da abóboda infinita,

De olho sagaz e arregalado,

Feito os de uma mulher bonita,

Milhões de estrelas num bordado –

Olhando atentas o oceano

Se agasalhar em névoa púrpura,

Fosforecente-irradiante;

As ondas lânguidas sussurram.

Nada se move no velame

Da nau negreira; a calmaria

Envolve tudo; e só as chamas

Tremulam sob a algaravia.

Toca a rabeca o contramestre,

O cozinheiro no flautim,

A percussão faz um grumete,

O médico sopra o clarim.

Uma centena de africanos

Saracoteia, urrando alto;

A cada passo os ferros rangem

Num ritmo cadenciado.

Batem no chão em gozo e fúria;

E escravas lindas, sensuais,

Esfregam-se nos homens nus –

No ar espalham-se os ais.

O beleguim se faz de mestre

De cerimônia, e com o chicote

Anima aqueles que se negam

A requebrar e dar pinote.

Praticumbum prugurundum!

Todo o barulho despertou,

Na escuridão do mar profundo,

Estranhos seres do torpor.

Tontos de sono, os tubarões

Em bando vão subindo à tona,

Pra ver, esbugalhando os olhos,

O que lhes trouxe aquela insônia.

Já sabem que é de madrugada,

Cedo demais pro dejejum;

Bocejam pra conter a raiva,

Mostrando os dentes um por um.

Praticumbum prugurundum –

Se arrasta a dança noite adentro.

De impaciência, os tubarões

Cravam na própria cauda os dentes.

Eu creio que não apreciam

A música. Já disse um vate

Famoso inglês: “Jamais confie

Em feras que desprezam a arte”.

Praticumbum prugurundum –

Se arrasta a dança noite afora.

Na gávea, o sobrecarga então

Faz o sinal da cruz e ora:

“Deus, pelo amor de Jesus Cristo,

Me poupa a vida da negrada!

Pecam por serem quase bichos –

Perdoa – não sabem de nada.

Cristo Jesus, lá do teu horto,

Salva meus pretos, eu te peço!

Se não chegar metade ao porto,

Deste negócio eu me despeço.”

Castro Alves, o poeta da liberdade, inspirado em Heine, também imortalizou o seu repúdio aos odiosos tráfico negreiro e escravidão negra, em seu magnífico poema que, igualmente, recebeu o título de “O navio negreiro”; vide- a parte da tragédia:

“(…)

Desce do espaço imenso, ó águia do oceano!

Desce mais … inda mais… não pode olhar humano

Como o teu mergulhar no brigue voador!

Mas que vejo eu aí… Que quadro d’amarguras!

É canto funeral! … Que tétricas figuras! …

Que cena infame e vil… Meu Deus! Meu Deus! Que horror!

IV

Era um sonho dantesco… o tombadilho

Que das luzernas avermelha o brilho.

Em sangue a se banhar.

Tinir de ferros… estalar de açoite…

Legiões de homens negros como a noite,

Horrendos a dançar…

 

Negras mulheres, suspendendo às tetas

Magras crianças, cujas bocas pretas

Rega o sangue das mães:

Outras moças, mas nuas e espantadas,

No turbilhão de espectros arrastadas,

Em ânsia e mágoa vãs!

 

E ri-se a orquestra irônica, estridente…

E da ronda fantástica a serpente

Faz doudas espirais …

Se o velho arqueja, se no chão resvala,

Ouvem-se gritos… o chicote estala.

E voam mais e mais…

 

Presa nos elos de uma só cadeia,

A multidão faminta cambaleia,

E chora e dança ali!

Um de raiva delira, outro enlouquece,

Outro, que martírios embrutece,

Cantando, geme e ri!

 

No entanto o capitão manda a manobra,

E após fitando o céu que se desdobra,

Tão puro sobre o mar,

Diz do fumo entre os densos nevoeiros:

“Vibrai rijo o chicote, marinheiros!

Fazei-os mais dançar!…”

 

E ri-se a orquestra irônica, estridente. . .

E da ronda fantástica a serpente

Faz doudas espirais…

Qual um sonho dantesco as sombras voam!…

Gritos, ais, maldições, preces ressoam!

E ri-se Satanás!…

V

Senhor Deus dos desgraçados!

Dizei-me vós, Senhor Deus!

Se é loucura… se é verdade

Tanto horror perante os céus?!

Ó mar, por que não apagas

Co’a esponja de tuas vagas

De teu manto este borrão?…

Astros! noites! tempestades!

Rolai das imensidades!

Varrei os mares, tufão!

 

Quem são estes desgraçados

Que não encontram em vós

Mais que o rir calmo da turba

Que excita a fúria do algoz?

Quem são? Se a estrela se cala,

Se a vaga à pressa resvala

Como um cúmplice fugaz,

Perante a noite confusa…

Dize-o tu, severa Musa,

Musa libérrima, audaz!…

 

São os filhos do deserto,

Onde a terra esposa a luz.

Onde vive em campo aberto

A tribo dos homens nus…

São os guerreiros ousados

Que com os tigres mosqueados

Combatem na solidão.

Ontem simples, fortes, bravos.

Hoje míseros escravos,

Sem luz, sem ar, sem razão. . .

 

São mulheres desgraçadas,

Como Agar o foi também.

Que sedentas, alquebradas,

De longe… bem longe vêm…

Trazendo com tíbios passos,

Filhos e algemas nos braços,

N’alma — lágrimas e fel…

Como Agar sofrendo tanto,

Que nem o leite de pranto

Têm que dar para Ismael.

 

Lá nas areias infindas,

Das palmeiras no país,

Nasceram crianças lindas,

Viveram moças gentis…

Passa um dia a caravana,

Quando a virgem na cabana

Cisma da noite nos véus …

… Adeus, ó choça do monte,

… Adeus, palmeiras da fonte!…

… Adeus, amores… adeus!…

 

Depois, o areal extenso…

Depois, o oceano de pó.

Depois no horizonte imenso

Desertos… desertos só…

E a fome, o cansaço, a sede…

Ai! quanto infeliz que cede,

E cai p’ra não mais s’erguer!…

Vaga um lugar na cadeia,

Mas o chacal sobre a areia

Acha um corpo que roer.

 

Ontem a Serra Leoa,

A guerra, a caça ao leão,

O sono dormido à toa

Sob as tendas d’amplidão!

Hoje… o porão negro, fundo,

Infecto, apertado, imundo,

Tendo a peste por jaguar…

E o sono sempre cortado

Pelo arranco de um finado,

E o baque de um corpo ao mar…

 

Ontem plena liberdade,

A vontade por poder…

Hoje… cúm’lo de maldade,

Nem são livres p’ra morrer. .

Prende-os a mesma corrente

— Férrea, lúgubre serpente —

Nas roscas da escravidão.

E assim zombando da morte,

Dança a lúgubre coorte

Ao som do açoute… Irrisão!…

 

Senhor Deus dos desgraçados!

Dizei-me vós, Senhor Deus,

Se eu deliro… ou se é verdade

Tanto horror perante os céus?!…

Ó mar, por que não apagas

Co’a esponja de tuas vagas

Do teu manto este borrão?

Astros! noites! tempestades!

Rolai das imensidades!

Varrei os mares, tufão! …

VI

Existe um povo que a bandeira empresta

P’ra cobrir tanta infâmia e cobardia!…

E deixa-a transformar-se nessa festa

Em manto impuro de bacante fria!…

Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,

Que impudente na gávea tripudia?

Silêncio. Musa… chora, e chora tanto

Que o pavilhão se lave no teu pranto! …

 

Auriverde pendão de minha terra,

Que a brisa do Brasil beija e balança,

Estandarte que a luz do sol encerra

E as promessas divinas da esperança…

Tu que, da liberdade após a guerra,

Foste hasteado dos heróis na lança

Antes te houvessem roto na batalha,

Que servires a um povo de mortalha!…

 

Fatalidade atroz que a mente esmaga!

Extingue nesta hora o brigue imundo

O trilho que Colombo abriu nas vagas,

Como um íris no pélago profundo!

Mas é infâmia demais! … Da etérea plaga

Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!

Andrada! arranca esse pendão dos ares!

Colombo! Fecha a porta dos teus mares!”

Machado de Assis, um dos maiores – senão o maior – romancistas brasileiros, em sua obra “O memorial de Ayres”, de 1908, ilustra bem o que significou a abolição da escravatura:

“Enfim, lei. Nunca fui, nem o cargo me consentia ser propagandista da abolição, mas confesso que senti grande prazer quando soube da votação final do Senado e da sanção da Regente. Estava na rua do Ouvidor, onde a agitação era grande e a alegria geral.

Um conhecido meu, homem de imprensa, achando-me ali, ofereceu-me lugar no seu carro, que estava na rua Nova, e ia enfileirar no cortejo organizado para rodear o paço da cidade, e fazer ovação à Regente. Estive quase, quase a aceitar, tal era o meu atordoamento, mas os meus hábitos quietos, os costumes diplomáticos, a própria índole e a idade me retiveram melhor que as rédeas do cocheiro aos cavalos do carro, e recusei. Recusei com pena. Deixei-os ir, a ele e aos outros, que se juntaram e partiram da rua Primeiro de Março. Disseram-me depois que os manifestantes erguiam-se nos carros, que iam abertos, e faziam grandes aclamações, em frente ao paço, onde estavam também todos os ministros. Se eu lá fosse, provavelmente faria o mesmo e ainda agora não me teria entendido… Não, não faria nada; meteria a cara entre os joelhos.

Ainda bem que acabamos com isto. Era tempo. Embora queimemos todas as leis, decretos e avisos, não poderemos acabar com os atos particulares, escrituras e inventários, nem apagar a instituição da história, ou até da poesia. A poesia falará dela, particularmente naqueles versos de Heine, em que o nosso nome está perpétuo. Neles conta o capitão do navio negreiro haver deixado trezentos negros no Rio de Janeiro, onde “a casa Gonçalves Pereira” lhe pagou cem ducados por peça. Não importa que o poeta corrompa o nome do comprador e lhe chame Gonzales Perreiro; foi a rima ou a sua má pronúncia que o levou a isso. Também não temos ducados, mas aí foi o vendedor que trocou na sua língua o dinheiro do comprador”.

Por tudo o quanto se disse aqui, que o dia 13 de maio seja de reverência aos milhares que, por séculos, tombaram em prol da liberdade, e de renovação da luta pela conquista da cidadania plena, o que implica o fim das múltiplas formas de discriminação, para todos os(as) brasileiros(as), de todas as etnias, cores e credos.

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Por José Geraldo de Santana Oliveira 

Assessor Jurídico do Sinpro Goiás, da Fitrae-BC, Fitrae MTMS, Sintrae-MS, Sintrae-MT, Sinpro Pernambuco e Consultor Jurídico da Contee.

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Convocação para Assembleia Geral Ordinária

O Presidente do Sindicato dos Professores do Estado de Goiás, Alan Francisco de Carvalho, no uso das atribuições que lhe conferem os Estatutos Sociais da Entidade, convoca os associados (as) quites e em condições de votar, para participarem da Assembleia Geral Ordinária, no dia 31 de maio, às 15 h, na sede do Sinpro Goiás.

O encontro irá deliberar  a apreciação e votação de prestação de contas referentes ao período de janeiro a dezembro de 2013.

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Edital publicado nesta sexta-feira, 16, no jornal O Hoje, na editoria de Classificados, página 4:

EDITAL DE CONVOCAÇÃO

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Serviço:

Assembleia Geral Ordinária

Data: 31/5/2014

Horários: 15 h e 16 h

Local: Sinpro Goiás

End.: Av. Independência, nº 942, Qd. 943, Lt. 33, Leste Vila Nova / Goiânia-Go

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Jorn. FERNANDA MACHADO

Assess. de Imprensa do Sinpro Goiás

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Psicóloga na rede conveniada do Sinpro Goiás

O Sinpro Goiás trás para seus associados (as) e funcionários (as), convênio com a psicóloga, a Drª Isabela Márcia Freitas Montes, que atende na Santé Espaço Terapêutico. Mediante a apresentação da carteirinha de sindicalizado/empregado, você obtém 50% de desconto em avaliação psicológica e atendimento psicológico (psicoterapia).

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End.: Rua 1.125, nº 282, Qd. 219, Lt. 10, St. Marista

 

 

 

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Jorn. FERNANDA MACHADO

Assess. de Imprensa do Sinpro Goiás