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Luta das entidades assegura um PNE vitorioso

 A luta das entidades nacionais que defendem a educação pública, entre as quais a Contee, garantiu uma importante vitória hoje, 3, na votação dos destaques ao Plano Nacional de Educação (PNE). Depois da significativa conquista representada, na semana passada, pela aprovação do texto-base do PNE – desfazendo o retrocesso aplicado pelo Senado e reincorporando, à redação da Meta 20, a determinação de investimentos de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) em educação pública – esta terça-feira foi dia de garantir a ampliação da contribuição da União para que estados e municípios programem o Custo Aluno-Qualidade Inicial (CAQi) e o Custo Aluno-Qualidade (CAQ), instrumentos essenciais para que todas as escolas brasileiras tenham asseguradas as condições de infraestrutura, de trabalho e de remuneração justa aos educadores. Apesar do destaque feito a este ponto por segmentos contrários à complementação da União, o texto foi mantido em função da batalha incansável travada pelas entidades.

Todas as articulações para a votação de hoje, bem como a sessão no Plenário, foram acompanhadas de perto e com intensa mobilização junto aos parlamentares pela coordenadora da Secretaria de Assuntos Institucionais da Contee, Nara Teixeira de Souza, pelo coordenador da Secretaria-Geral, Cássio Filipe Galvão Bessa, e pelo coordenador da Secretaria de Políticas Sociais, Alan Francisco de Carvalho. Lamentavelmente, um prejuízo ao PNE acabou sendo aprovado nesta terça, com a manutenção do artigo 5º do parágrafo 5º do texto. Prejuízo porque, como já havia sido alertado pela Contee e pelas demais entidades nacionais, o dispositivo em questão permite contabilizar os recursos das parcerias público-privadas, como o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), o Programa Universidade para Todos (ProUni), o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), além das creches e pré-escolas conveniadas, como investimento público em educação. No entanto, apesar desse destaque, a Contee ressalta a importância de, desde o início da tramitação do Plano, terem havido muito mais conquistas do que derrotas, a começar pela própria ampliação dos investimentos de 7% – como pretendia a primeira versão do projeto encaminhado ao Congresso Nacional – para 10%.

O PNE segue agora para a sanção presidencial. E sua aplicação será diuturnamente acompanhada pela Contee e demais entidades, a fim de que, de fato, pelos próximos dez anos, tenhamos recursos e políticas voltados para assegurar uma educação pública, gratuita e de qualidade socialmente referenciada, fundamental para o desenvolvimento e a soberania brasileira.

 

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Fonte: Contee

 

 

 

Jorn. FERNANDA MACHADO

Assess. de Imprensa e Comunic. do Sinpro Goiás

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Copa do mundo de futebol: símbolo da confraternização universal

O Planeta Terra é constituído por cerca de duas centenas de países, dos quais cento e noventa e dois são filiados à Organização das Nações Unidas (ONU), muitos deles são constituídos por vários povos. Cada País possui os seus próprios valores culturais, morais e religiosos.

Ao longo de milhares de anos, os diversos povos digladiam-se, seja em busca da sobrevivência, nos primórdios da história, seja pela conquista de domínios, materiais e humanos.

O século XX, o mais sangrento de todos eles, pois as guerras de rapina e de subjugação de povos, que nele tiveram lugar, ceifaram mais de uma centena de milhões e vidas; sendo que a segunda, que foi de 1939 a 1945, ceifou, sozinha, setenta milhões. Isto sem contar a primeira, a das duas coréias, a do Vietnã, a do Iraque, do Afeganistão e outras não contabilizadas oficialmente.

Paradoxalmente, o século XX, ao tempo em que elevou a máquina de destruição humana ao seu ápice, interligou todos os rincões da Terra- já não se pode mais dizer que os nautas não sabem o rumo, porque é tão grande o espaço, como fez o Poeta Castro Alves, em seu magnífico poema O Navio Negreiro; hoje, todas as fronteiras geográficas foram desvendadas; e conseguiu a fantástica façanha de criar um símbolo universal de comunicação e de confraternização: o futebol.

Não se tem notícia de um só povo que não ame o futebol; a sua linguagem é universal, todos a entendem e a praticam. Não importam quão diferentes sejam os valores culturais das centenas de povos do mundo; o futebol unifica-os.

Há décadas, a copa do mundo de futebol, reveste-se da condição de um mágico momento de encontro de todos os povos do mundo; encontro que não se cinge às trinta e duas nações que fazem o espetáculo em campo; as outras cento e sessenta, de forma uníssona, juntam-se às que disputam a taça: em colossais e indescritíveis júbilo, alegria e confraternização. Os mesquinhos e escusos interesses econômicos, que se multiplicam, durante o período de eliminatórias e no da copa, não  empanam o brilho do emblemático significado da festa do futebol. Talvez, o único verdadeiro instante de efetiva paz universal.

Pelo seu significado, sem fronteiras, todos os cento e noventa e dois países filiados à ONU almejam o privilégio sediar uma copa do mundo. Por isto, a escolha que se dá a cada quatro anos é acirrada, em todos os sentidos.

Felizmente, o Brasil, depois de sessenta anos, tem a subida honra de sediar a copa do mundo de 2014; melhor seria dizer, de ser o anfitrião do mundo, na festa universal da confraternização. A não ser para os despachantes das tragédias e das desgraças, isto é, sim, motivo de incomparável orgulho e regozijo para os mais de duzentos milhões de cidadãos (ãs), que se abrigam neste abençoado torrão geográfico.

Somente os detratores da alegria e da irmandade universal, que se alimentam de desgraças- como a Loba, da obra de Dante Alighiere, A Divina Comédia, que se alimentava de carne humana, e quanto mais comia, mais fome sentia-, é que, numa atitude totalmente repudiável, procuram lançar cizânia e embaralhar o sincero e espontâneo sentimento de alegria dos (as) brasileiros(as), com vistas fazê-los voltar-se contra este maravilhoso espetáculo de confraternização.

Os coveiros da alegria, cinicamente, dizem que se gastam bilhões de reais com a realização da copa do mundo, dinheiro  retirado da educação e da saúde;  que é despautério, um País, cheio de mazelas sociais, como Brasil, esbanjar dinheiro com este evento; outros, agentes dos mesmos vis interesses, dizem que a copa será um fiasco; e, por aí, vai.

Estas vozes são cínicas e falsas. Aliás, são as mesmas que, durante décadas, estiveram à frente do poder político, e, nelas, só cuidaram de semear, em abundância, a concentração de rendas e, por conseguinte, as desigualdades sociais; e, agora, querem fazer da copa do mundo um trampolim para a sua volta ao poder.

É interessante notar que as “bravas” vozes que se levantam contra o suposto “desperdício” de dinheiro, com a realização da copa do mundo, mantêm-se em silêncio sepulcral sobre os gastos de dinheiro público, com os serviços da dívida interna, que consomem, anualmente, 5,6% do Produto Interno Bruto (PIB); percentual superior aos investimentos em educação pública, que não ultrapassam 5,3%, deste.

O Jornal A Folha de São Paulo, em recente matéria sobre a copa do mundo, demonstrou, numericamente, que os gastos totais com a sua realização, representam apenas um mês de investimentos da educação.

Claro que, até pela dimensão do evento, são mais do que legítimas as manifestações pacíficas, de descontentamento com os serviços públicos, e de reivindicações por mudanças profundas em sua oferta e garantia. Todavia, as manifestações marcadas pela violência, seja verbal ou física, que se voltam contra o evento, querendo empanar o seu brilho e o seu significado, além de não serem salutares, pois que representam a inaceitável negação do simbolismo universal da copa do mundo de futebol: repita-se, o mágico momento de confraternização universal; além do que, servem a inconfessáveis e repulsivos interesses.

Por tudo isto, espera-se que os (as) brasileiros(as) e os (as) demais cidadãos (ãs) do mundo, em uma só voz,  cantem a alegria da vida, da paz, da liberdade e da confraternização universais. Como fizeram os vinte mil torcedores que, num ato espontâneo, compareceram ao Estádio Serra Dourada, em Goiânia, no último dia 2, para ver um simples treino da seleção brasileira, como preparativo para o jogo amistoso com a seleção do Panamá.

Vivas à copa do mundo! Vivas ao futebol, linguagem de todos os povos!

                   Aos detratores da alegria, só há uma palavra digna “Vade  retro satana”. Afaste-se, satanás.

 

 

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José Geraldo de Santana Oliveira

Assessor Jurídico do Sinpro Goiás

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Neste sábado, 7, com o tema Concepções sindicais

A Diretoria do Sindicato dos Professores do Estado de Goiás (Sinpro Goiás) realizará no próximo sábado, 7, das 8 h 30 às 11 h 30,  na própria sede, o 3º módulo do III Curso de Formação Sindical, com o tema “Concepções sindicais”, que será ministrado pelo Secretário Financeiro do Sinpro Goiás, o Prof. Manoel da Silva Álvares.

O objetivo do curso é destacar e aprofundar o conhecimento da história do movimento sindical, a tomada de consciência dos direitos assegurados aos professores pela legislação brasileira e a necessidade de uma formação permanente de professores e professoras para uma atuação mais eficaz do movimento sindical em Goiás.

O programa (quatro módulos), se propõe a oferecer aos participantes uma ampla visão sobre temas como: a origem dos sindicatos, as concepções sindicais, os direitos dos professores, a aspectos históricos do movimento sindical brasileiro, a história do Sinpro Goiás e as transformações do mundo do trabalho.

O evento é gratuito e aberto ao público e terá certificado de participação.

 

ATENÇÃO: As inscrições já realizadas (em outros módulos) continuam válidas.

Quem ainda não efetuou inscrição, clique aqui

 

 

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Jorn. FERNANDA MACHADO

Assess. de Imprensa e Comunic. do Sinpro Goiás

 

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Mestrado e Doutorado Latino-Americano

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O Instituto Latino-Americano de Altos Estudos Sociais (ILAES posgrados) juntamente com a Universidade da Integração das Américas (UNIDA) por meio de convênio com Sindicato dos Trabalhadores do Município de Goiânia (SINDIGOIÂNIA) e Instituto Lato Sensu (ILS) traz para Goiânia a proposta de intercambio acadêmico para Programas de Mestrado Latino-Americano e Doutorado Latino-Americano, em diversas áreas, tais como: Ciências da Educação, Administração e Gestão Pública, além de Formação e Gestão Universitária.

Condições gerais para Inscrição no programa de Mestrado

Poderão inscrever-se no Programa de Mestrado os candidatos que possuam formação acadêmica com pelo menos oito semestres de duração (Graduações ou formação equivalente), cursados em Instituição de Ensino Superior Latino-Americana.

Programação para o segundo semestre de 2014 serão nos meses de julho e janeiro.
Mestrado Latino-Americano (Ms): Ciências da Educação,
Mestrado Latino-Americano (Ms): Administração e Gestão Pública.
Mestrado Latino-Americano (Ms): Formação e Gestão Universitária.
Doutorado Latino-Americano (Dr): Ciências da Educação.

 

Legislação aplicável:
Legislação aplicável: Informamos que os diplomas de Mestre e/ou Doutor, depois de
obtidos, deverão ser reconhecidos no Brasil por Universidades que possuam cursos na
mesma área e em nível equivalente ou superior ao do obtido.

A legislação aplicada à matéria:

No BRASIL: é a seguinte:

Art. 48, § 3º, da Lei nº 9396, de 20 de dezembro de 1996, que regulamenta o Reconhecimento de diplomas obtidos no exterior, e o art. 4º da Resolução CNE/CES nº 01, de 03 de abril de 2001.

No MERCOSUL
Decreto Nº 3.196, de 5 de outubro de 1999, que aprova o Protocolo de Integração Educacional para Prosseguimento de Estudos de Pós-Graduação nas Universidades dos Países Membros do MERCOSUL.

Inscrições abertas:

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www.sindigoiania.com.br
Tel.: (62) 3089-5350 e (62) 3089-5351

 

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www.ilsbr.com.br
Tel.: (62) 3922-7300 e (62) 3922-7400

 

 

Fonte: Dilma Matos

 

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Jorn. FERNANDA MACHADO

Assess. de Imprensa do Sinpro Goiás

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Desvio de função dos docentes

Atenção professores (as),

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De acordo com a Cláusula 4ª, da Convenção Coletiva, o comparecimento do docente convocado pelo estabelecimento de ensino, fora de seu horário de trabalho e de períodos normais de aula, é obrigatoriamente remunerado, mediante o pagamento de um salário-aula por período correspondente, acrescido de 50%.

Para que os professores compareçam em outras atividades da instituição é preciso, fora do horário contratado, que, além da remuneração, haja compatibilidade de horário. Isto é, se o professor (a) tem outro compromisso, não se pode exigir dele (a) que falte a este, para cumprir a convocação da escola ou de uma delas.

Se a instituição de ensino onde você leciona lhe convocar para outras atividades, fora de seu horário de trabalho e sem remuneração, denuncie: 0800-607 22 27 (o seu sigilo é garantido).

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Informações do Deptº. Jurídico do Sinpro Goiás

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Jorn. FERNANDA MACHADO

Assess. de Imprensa e Comunic. do Sinpro Goiás

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Sinpro Goiás ajuizou reclamação Trabalhista em face da Puc Goiás

O Sindicato dos Professores do Estado de Goiás (Sinpro Goiás) ajuizou em 2013, na 14ª Vara do Trabalho de Goiânia – 18ª Região, reclamação trabalhista (Processo: ACC 0011836-48.2013.5.18.0014), em face da Sociedade Goiana de Cultura (Puc Goiás), ambos qualificados, pleiteando, em decorrência dos fatos expostos:

  • A promoção dos docentes contratados até 2006, com efeito retroativo a dezembro/2008, para o último nível da classe em que se achavam enquadrados àquela oportunidade, pagando-lhes todas as diferenças salariais;
  • a promoção anual dos docentes contratados a partir de outubro 2007 para o último nível da classe que ocupam, também com efeito retroativo, observando o disposto no art.20, do Estatuto da Carreira Docente, igualmente com efeito retroativo à data em que já faziam jus a esta promoção, pagando-lhes todas as diferenças salariais; que, a partir de março de 2014, inclusive, cumpra a reclamada, integralmente, o que preceitua o art. 24, e não apenas para constar, mas para os fins dos arts. 15 e 16, ambos do realçado Estatuto;
  • honorários advocatícios e justiça gratuita (ID 1919041- págs. 08/09). Deu à causa o valor de R$ 30.000,00. Juntou documentos.

Foi indeferido, o pedido de promoção dos docentes, sendo deferido, no concerne à obrigação de fazer, uma vez que a Universidade não fez prova da publicação anual da classificação por antiguidade de seu pessoal docente, nos termos do que determina o art. 24, do Estatuto da Carreira Docente, condenando-a a anualmente, até o 30º dia do mês de março, divulgar, em boletim e mediante afixação nos murais das Unidades de Ensino, a classificação por antiguidadede seu pessoal docente, relacionando-o por Unidade de Ensino, segundo classes e níveis, contendo a ordem de classificação, o nome do professor, o tempo de efetivo exercício na classe e o tempo de efetivo exercício na carreira docente na PUC-GO, tudo conforme prescrito no art. 24, do Estatuto da Carreira Docente, regulamento que se integra ao contrato individual de trabalho dos substituídos, sob pena de multa diária no importante de R$ 1.000,00.

Confira aqui o processo na íntegra.

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Deptº. Jurídico do Sinpro Goiás

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Jorn. FERNANDA MACHADO

Assess. de Imprensa e Comunic. do Sinpro Goiás

 

 

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A chapa “Nada é Impossível de Mudar” é eleita com 95,92% dos votos válidos

A chapa “Nada é Impossível de Mudar” foi eleita, na noite dessa sexta-feira (30/05) , com 95,92% dos votos válidos. As Eleições da Diretoria e Conselho Fiscal da Apuc para o Biênio 2014-2016 foram realizadas, em clima de tranquilidade, durante os dias 29 e 30/05, com urnas disponibilizadas em todas as Áreas, no Campus II e V da PUC Goiás; bem como na sede da Apuc (Área II da PUC Goiás). No pleito, também foi eleito o Conselho Fiscal da entidade. A posse festiva será realizada em outubro juntamente com as comemorações do Dia do/a Professor/a.

Foram eleitos/as para o Conselho Fiscal os seguintes professores/as por ordem de votação: José Maria Baldino (HGRS/PPGE), Eugênio de Britto Jardim(ADM/MED), Silvio Costa(HGRS) , Nilva Coelho(Aposentada), Eline Jonas(HGRS) e Cristian Novoa Bustos (MAF).

 

Veja abaixo, a composição da Diretoria Executiva eleita e do Conselho Fiscal:

 

CHAPA ELEITA

 

 

Fonte: Assessoria de Comunicação da Apuc

 

 

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Jorn. FERNANDA MACHADO

Assess. de Imprensa e COmunic. do Sinpro Goiás

 

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Que tipo de educação a gente tem?

Neste momento em que o texto-base do Plano Nacional de Educação (PNE) acaba de ser aprovado e que se aguarda a votação dos destaques na próxima segunda-feira (2), vale a pena reler a entrevista com as coordenadoras das secretarias de Assuntos Educacionais e de Assuntos Institucionais da Contee, Adércia Bezerra Hostin e Nara Teixeira de Souza, publicada na edição deste mês da Revista Conteúdo.

O golpe de 1964, que instaurou os 21 anos de ditadura no Brasil, provocou sérios impactos na educação, que ainda hoje são sentidos por quem atua nas salas de aula, nas instituições de ensino, nos movimentos estudantil e sindical de trabalhadores do setor. Mais do que resquícios de um modelo econômico, político e pedagógico, porém, o que a educação brasileira segue enfrentando são ditaduras “invisíveis” que vão desde o processo de financeirização do ensino – ditadura do consumo, do descartável e do lucro que transforma educação em mercadoria – até posturas extremamente conservadoras semelhantes às adotadas pela Marcha da Família com Deus pela Liberdade – como a vista na tramitação do Plano Nacional de Educação (PNE) na Câmara dos Deputados – que ainda impedem a promoção de um ensino comprometido com a igualdade e o combate a todo e qualquer tipo de discriminação.

Neste bate-papo com a CONTEÚDO, as diretoras da Contee Adércia Bezerra Hostin, coordenadora da Secretaria de Assuntos Educacionais, e Nara Teixeira de Souza, coordenadora da Secretaria de Assuntos Institucionais, que acompanham de perto os debates referentes à educação em Brasília, falam sobre os diferentes tipos de ditadura enfrentados hoje e sobre o papel dos educadores na formação crítica das novas gerações.

Quais as ditaduras que afetam a educação hoje no Brasil?

Nara – A ditadura militar de 1964 com certeza ainda tem interferência na situação de hoje. Com os 50 anos do golpe militar, pudemos ver um pouco mais explícita essa questão. Lógico, sabemos que tem gente que apoiou a ditadura ou que era contra, mas acho que nessa descomemoração – ou comemoração por alguns grupos específicos – conseguimos visualizar melhor essas influências existentes. Por exemplo, acompanhando o PNE, principalmente no que toca essa discussão de gênero que acabou tendo uma repercussão muito grande, vimos a influência desses setores mais reacionários. Foi pela questão de gênero, mas vemos também que é uma concepção de classe. Concepções reacionárias que, pelo menos para nós, interferem de forma muito acentuada na sociedade. A gente vê o papel, por exemplo, da Igreja Católica e das outras religiões. São pontos de vista que perpassam a questão das religiões, mas também de todo um pensamento conservador no qual detectamos esse fundo de atraso de pensamento, de atraso de concepção de educação.

Antes do golpe de 1964, o governo Jango estava com várias propostas de reformas. Uma delas era a reforma educacional e, se ela tivesse sido aprovada, possivelmente o pensamento sobre educação na nossa sociedade seria outro. É um “se”, mas o que temos é a realidade concreta do golpe militar, o qual, com certeza, mudou muito a concepção de pensamento em educação. Fui criada nesse período. Nasci em 1969 e minha educação, até a oitava série, por exemplo, tinha uma concepção de louvor ao golpe militar. Participei de uma gincana de comemoração dos 20 anos da “revolução de 1964”. Isso me marcou muito, essa concepção anticomunista e reacionária da sociedade. Tive a felicidade de atuar no movimento estudantil e ver que o que me ensinaram na escola era uma história completamente mentirosa e equivocada, mas muitas pessoas da minha geração ou da geração um pouco anterior à minha, que foram educadas sob o signo dessa “revolução” – porque não era ditadura o que se estudava nas escolas –, trazem essa carga de ideia de sociedade na qual temos ainda uma dificuldade muito grande de discutir alguns temas importantes, como a questão do aborto. Hoje, milhares de mulheres morrem por conta de aborto mal feito, ficam estéreis… tudo isso porque a sociedade não discute esse tema.

De outro lado, temos a questão do tipo de educação que a gente quer. A Ubes (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas) e a UNE (União Nacional dos Estudantes), por exemplo – a Ubes particularmente, onde comecei a atuar – têm uma proposta, que já foi mudada ao longo dos anos, de uma “nova escola”. O que é essa nova escola? É uma mudança muito grande, por exemplo, no ensino médio, já que, dentro do ensino médio, temos ainda uma concepção de não saber para o que ele é. Ele educa para o quê, para o trabalho? Não educa. Para a cidadania? Também não. Então que tipo de educação esses jovens que cursam o ensino médio têm? Nas mudanças que aconteceram na educação, vimos também uma abertura muito grande ao capital. Então, hoje, grande parte das escolas, até boa parte das públicas, tem um sistema de apostila. E se você pegar o que se está ensinando nas apostilas – eu trabalhava com um livro excelente de história e de repente me deram uma apostila –, não tem criticidade nenhuma.

E isso é um resquício do modelo ditatorial também, não? A imposição de um pensamento massificado.

Nara – Com certeza!

Adércia – Na verdade, isso que a Nara coloca muito tranquilamente, além de ser resquício da época da ditadura, é uma questão curricular. Há questões que a sociedade deixou transpor a época da ditadura para serem uma questão cultural. Hoje, por exemplo, a mulher tem uma soma triplicada das suas responsabilidades, porque há uma mudança de postura, mas ainda não há uma mudança total e cultural. E o que se trata dentro dessa estrutura é exatamente isso: uma mudança curricular. Observamos que as lutas são constantes. Lutamos para que se tire o ensino religioso, mas o grupo vai e o insere no currículo. Uma das bandeiras de luta da Contee é a garantia de uma educação pública, de qualidade, laica. E quando buscamos essa questão de ser laica, queremos garantir que o Estado também assegure isso para a sociedade como um todo. Que a gente tenha essa opção. E que, no caso do setor privado, isso realmente venha a ser uma opção. Quando você insere o ensino religioso, você está mudando uma possível revolução realmente social. Questões de cunho religioso direcionam para todas essas outras questões pontualmente, porque são culturalmente muito fortes; o uso do contraceptivo, o aborto, a questão de gênero, isso tudo acaba inserido numa única questão. Então, quando tu deixas que um currículo se aproprie desse movimento, tu estás impedindo que a sociedade avance significativamente numa revolução social para um mundo diferente, melhor, possível.

Observamos também que, nessa questão curricular que vem enraizada desde a época da ditadura, essas amarras não foram rompidas. Quando olhamos para este contexto colocado desde as manifestações de junho do ano passado, vemos muitos jovens que foram para as ruas sem saber, muitas vezes, o que estavam fazendo e que agora fazem uma apologia à Marcha da Família, quando, na nossa época, estariam militando em movimentos sociais de mudança, para que o país fosse democrático.

Para vocês, enquanto professoras que lidam com essa juventude, que sentimento provoca pensar que, 50 anos depois do golpe, o país ainda necessita de uma reforma educacional e enfrenta discussões tão conservadoras quanto aquelas de 1964?

Nara – Aí é uma questão de classe mesmo. Não sofremos um golpe somente militar. Foi um golpe civil também. E aquele grupo que financiou e bancou politicamente todo o aparato do golpe é o grupo que estava naquele momento dominando nossa sociedade e que continua. O mesmo grupo. Muda às vezes uma coisinha ou outra nos discursos, mas o veio inteiro permanece o mesmo. Então, que tipo de educação a gente tem? Há um problema muito grande: hoje os nossos jovens são muito individualistas. Temos dificuldades de trazê-los para o movimento sindical. Temos dificuldade para inseri-los em algumas bandeiras que consideramos muito caras. Por quê? Porque muitos dos jovens estão preocupados com o quê? Com a sobrevivência direta e com as suas coisas de indivíduo. Não estão preocupados com uma transformação radical da sociedade. Aí tem a questão da educação. Que tipo de educação foi dada nesse período todo? Não é uma educação voltada, como coloquei antes, a fazer uma discussão crítica da sociedade. E o que uma análise crítica rasa pode pôr em mudança? Que alternativa tem a sociedade? “Não tem, vou cuidar da minha vida.” O projeto de uma sociedade transformadora e igualitária – que para mim é uma sociedade socialista – não passa para muitas dessas pessoas. Se a sociedade não tem um sonho de transformação, ela não muda. Parece que o mundo é imutável. Para muitas pessoas é isso aqui mesmo, a gente vai fazer no máximo uma mudançazinha ou outra, mas mudar de fato a sociedade a grande parte dos jovens acha que não consegue. Ou então é pontual: o ônibus, a pauta que afeta diretamente o indivíduo.

Mesmo na chamada democracia, essa questão da posição individual é muito séria. Por exemplo, os grêmios estudantis, que são um espaço fundamental para nossos jovens começarem a fazer uma análise de intervenção política dentro da sua escola. Quantos grêmios estudantis realmente funcionam? Na educação privada, nem existem e, quando existem, estão atrelados. E isso atrapalha, porque, para exercer o processo fundamental de se achar como sujeito de transformação, não pode haver só um projeto de transformação, tem que ser um exercício prático de cidadania. E onde nossos jovens podem ter esse exercício prático de cidadania? Quais espaços existem hoje? São muito poucos. Alguns espaços eles não aceitam ter, porque acham que são conservadores ou, por outro lado, muito ligados à esquerda… Aí vão para um discurso de “sou contra tudo”, “nada presta’”. E isso vai contra a nossa sociedade, porque você já não pensa que pode ter, como eu acredito, um projeto de transformação.

Como isso se reflete na luta em defesa da educação?

Nara – Em relação ao PNE, por exemplo, vimos meninos e meninas muito novos com bandeiras como “Sexo sim, gênero não”, “Mais educação, menos gênero”. Se a gente perguntar para esses meninos o que isso significa, eles não têm noção. Quase comprei uma briga com um menino que estava atrás de mim na votação porque, quando o Jean Willys entrou, o garoto assim: “Ó o ‘veado’ lá! E o ‘veado’ acha que sabe alguma coisa? O ‘veado’ é um idiota que não sabe nada”. Aí o outro: “O que é que esse povo acha? Esquerda não sabe nada, não tem educação. Esquerda nem estuda! Eles não têm noção de nada! São um bando de pessoas que não têm projeto nem estudam. Esquerda nem sabe o que é educação”. Olhei para a cara dele e falei: “Olha aqui: sou professora de história, mestre em educação, sou comunista. E, portanto, sou de esquerda. Estudei em escola pública a minha vida inteira, não sou rica, nunca fui rica, e estudei. E tenho muito orgulho de ser comunista. Que história é essa que você está falando para mim que esquerda e comunista não estudam? Acho que tive muito mais acesso à educação, facilitado por muitas coisas, e tenho uma compreensão de história muito maior do que você. Infelizmente, acho que está faltando você estudar um pouquinho mais de história e conhecer sua realidade.” O guri olhou para mim e saiu. Passou um pouquinho, ele foi embora. Por quê? Porque se você tiver oportunidade de confrontar o discurso…

Não tem contraposição.

Nara – Não tem.

Adércia – A verdade, para ser muito pontual, é que vivemos numa sociedade de consumo, daquilo que é consumido e descartado imediatamente. Ao mesmo tempo em que eu consumo, eu descarto. Isso contaminou as relações e, inclusive, as bandeiras de lutas. Quero tudo o que é muito imediato, tudo o que está muito “na moda”. É quase como se nossas bandeiras de luta, nossas falas, nossos esforços estivessem passando pelo fast food. E como é que eu vejo que a educação entra nesse patamar? Por que a educação virou também esse grande debate daquilo que é imediato, daquilo que é rápido e daquilo que é individual? E por que hoje uma das principais bandeiras de luta da Contee é “Educação não é mercadoria”? Por esse panorama muito claro. Precisa-se disputar espaço; não se discutem mais as coletividades, aquilo que é necessário para um país melhor, soberano, para uma democracia que seja realmente democracia, que tenha avanço social e que seja de melhoria para aqueles que estão aqui e aqueles que vão ficar. Então, quando a gente coloca que uma das principais bandeiras de luta da Contee é “Educação não é mercadoria”, é justamente por isso: porque a gente precisa romper com essa lógica do consumo imediato. De que eu não estou lá para disputar o vestibular porque eu preciso passar por cima do outro para ter uma melhor condição. Construímos uma ilusão de avanço. Nesses dez anos tivemos, sim, uma melhor distribuição de renda. Em contrapartida, tivemos uma falsa ilusão de que modificamos de classe social. E essa falsa ilusão nos tornou também mais hipócritas, no sentido de que, se avancei, não discuto mais questões importantes que são a segurança, a saúde e a educação pública. Essas bandeiras passam a não ser mais prioritárias, porque acho que minha apologia ao plano de saúde privado, à educação privada, à segurança privada me traz mais conforto e avanço. E não se faz mais a discussão sobre aquilo que seria o importante: os serviços públicos e as políticas públicas do país.

A escola não prepara para isso, principalmente as instituições privadas. A educação pública necessita de recursos imediatos para um avanço significativo e, no setor privado, é necessário romper com essa lógica do capital, que é a lógica do consumo, do descartável, do instantâneo, como se educação fosse só uma escada. Hoje observamos o marketing que as escolas fazem para que o aluno compre aquele produto de forma imediata. Se ele não gostar, pode trocar por outro, e outro, e outro. Isso também modifica a lógica dos educadores que estão nessas instituições de ensino. Observamos a fragilidade desses educadores e a dificuldade de discutir com eles temas como gestão democrática, formação, currículo. Existe uma resistência por parte até dos próprios trabalhadores em educação de aceitar a importância dessas bandeiras, porque, também na lógica do imediato e da troca, eles se sentem coagidos em avançar espaços.

Então, é importante buscar como se vai fazer uma ruptura com o que se está instalado de uma forma que, olhando de fora, parece definitiva. Entendemos que há uma necessidade imediata de fazer um rompimento e de cada vez mais deixar explícito quais são os vieses da história, o que isso pode nos ocasionar no futuro. As gerações futuras vão começar a sofrer com isso. Hoje observamos que as empresas tratam os funcionários da mesma forma como a gente vem sendo tratada desde o jardim de infância. E os pais usam muito desse subterfúgio com as instituições de ensino, de manipulá-las nesse sentido, quando entram na lógica de que educação é um mercado e que, se não diz respeito à família, pode, então, ser trocada.

Como se estivessem realmente vendendo e comprando um produto…

Nara – Isso. Uma coisa interessante que a Adércia falou e que eu lembrei é o seguinte: destacamos muito as manifestações que ocorreram o ano passado e tive a oportunidade de discutir, nesse período, com alguns professores, muitos até de escolas públicas, principalmente. Teve alguns momentos que presenciei que foram muito importantes nessa discussão. Em Cuiabá, queríamos sair com as bandeiras das nossas entidades. Falaram “partido não”, mas entidades… E aí, no processo todo, houve impedimento também das bandeiras de entidades. Fui entrar com a bandeira da CTB e tomaram da mão, a bandeira do pessoal da CUT também. Em relação a essas bandeiras, não é só o que está escrito: UNE, Contee… São as nossas entidades, que têm um movimento histórico.

No momento em que fizemos um ato na Assembleia – e isso me chocou muito – um companheiro meu estava segurando a bandeira da UNE e era jovem também. Nessa hora foi um monte de gente para cima dele: “Abaixa”. Ele: “Não abaixo”. “Abaixa”. “Não abaixo”. Na hora em que vi ele estava sozinho e fui para a frente dele, junto com uma outra companheira. Ficamos ele, eu e a menina. E o povo todo para cima: “Abaixa senão a gente faz abaixar”. Estávamos cercados de meninos e meninas de 15, 18 anos… O guri segurando a bandeira da UNE e pensando: “Vou apanhar, mas não vou descer essa bandeira”. Nós, que viemos do movimento estudantil, sabemos o que significa aquela bandeira. É uma bandeira história, de resistência à ditadura militar! Era uma bandeira muito importante. Aí, num momento, meu marido chegou por trás e falou: “Desce que vocês vão levar porrada. Não vamos criar caso aqui, desce a bandeira”. Olhei para meu marido, meu olho começou a cair água… Falei: “Não, Miranda…”. E ele: “Desce que vocês vão apanhar”. Aí ele desceu a bandeira. Saí de lá morrendo. Aí tinha um menino do meu lado que falou: “Que merda esse negócio dessa bandeira! Que diabo é isso?”. Olhei para a cara dele, putíssima, e perguntei: “Você sabe o que é UNE? UNE foi a entidade que lutou e na qual um monte de gente morreu para você estar aqui neste momento, para você falar um monte de merda no meu ouvido e eu ter que ouvir porque você tem direito. Como eu tenho direito de segurar a bandeira da minha entidade e ele também. E você está falando que ele não tem. Sabe quantos companheiros da sua idade ou um pouco mais velhos que você morreram por essa bandeira que você mandou descer? Você não sabe. Eu sei. Você devia ter vergonha de falar para esse menino descer essa bandeira.” O guri parou, olhou para mim e perguntou: “Você é professora de história?”. Falei: “Sou”. Aí ele parou, olhou de novo e falou: “Desculpa. Desculpa”. E saiu.

Ou seja: como estamos educando aqueles guris? O que é a bandeira da UNE, a bandeira da Contee, a bandeira das entidades para esses meninos? O que estamos ensinando para eles? Então, na hora em que falamos em educação, é isso. Aquele momento ali significou muito para mim, porque não é uma coisa pequena. É uma entidade representativa construída com a morte de muitos companheiros e companheiras… Não é a bandeira daquele menino que a estava segurando, não. São bandeiras nossas, históricas, que estamos nas ruas segurando. Muitos companheiros que estavam lá, professores, se questionaram: “O que estamos ensinando para esses guris?” Nada. Nada de fundamental. Estamos ensinando para eles que vale você se dar bem na vida.

Nunca pensei em ficar milionária nem deixar uma fortuna para minha filha. Sempre penso em deixar para ela conceitos de uma sociedade na qual eu acredito. Então, enquanto professora, na hora que vemos que não estamos conseguindo fazer isso com nossos alunos, dói muito. Aquele momento no ano passado me doeu e essa questão do PNE me dói enquanto mulher e enquanto professora, principalmente professora de história. Porque se perguntarmos para esse menino que estava segurando o cartaz “Gênero não” na Câmara, que eu considero absurdo, ele não vai saber discutir. E isso é o mais grave, porque se houvesse diálogo, se ele estivesse defendendo uma causa dele… Mas não é. Então, que educação estamos praticando? Como estamos educando nossos jovens para as futuras gerações? Porque tem que ser além de apertar botão. Não dá para ter um Pronatec (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego) que só ensina o cara a apertar botão ou usar uma máquina. Isso não serve, é pouco. Temos que educar para ser cidadão, para compreender a sociedade. E uma leitura de sociedade, de história, de sociologia a gente não tem conseguido, mesmo tendo colocado sociologia e filosofia no currículo.

Como professora, acho que esse debate sobre o que herdamos desse período de ditadura militar e também desse pequeno período que a gente tem de democracia mostra que temos conseguido pouco. A educação tem que ser transformada de maneira a, de fato, educar para a nova sociedade. Por isso, neste momento, é necessário discutirmos a reforma educacional e tantas outras reformas que consideramos importantes para a sociedade. Tenho certeza de que não vou fazer uma revolução nem ver uma sociedade socialista ou comunista… Mas gostaria muito que meu netinho de cinco anos, que eu amo de paixão, vivesse numa sociedade melhor. E que tivesse pelo menos a condição de fazer uma leitura diferente do que a maioria dessa juventude pensa. Queria que fosse crítico, que soubesse história, que soubesse discutir filosofia, sociologia, que fosse preparado para o mercado de trabalho, mas que fosse educado, principalmente, para ser cidadão. E isso não temos conseguido fazer plenamente por conta do modelo que herdamos da ditadura militar e cuja barreira não conseguimos ultrapassar. A gente fala ditadura militar, mas não são “os militares”, e sim aquele setor civil reacionário que continua no poder.

Qual a relevância de se refletir sobre essas questões neste ano eleitoral?

Adércia – Justamente por ser ano eleitoral, necessitamos discutir as plataformas de luta e de mudança, porque a cada movimento a gente observa também um afastamento de uma grande parte das pessoas que acreditam na mudança. Os trabalhadores têm desacreditado do projeto de mudança social. E cada vez mais vemos um acalanto, né? As pessoas vão se acostumando com esse modelo instalado e não buscam mais a mudança com a mesma força. Quando fazemos uma análise pontual de como está o movimento sindical, observamos que sempre o cenário é o mesmo, tem se cristalizado. E ouvimos também uma segunda fala, assim: “Não se preocupe, em todo lugar está igual”. Não! Os grandes momentos de mudança aconteceram quando não quisemos mais o igual. Precisamos romper essa lógica. Este é um ano importante, um ano em que se discute plataforma de governo e projetos para o Estado. Há uma necessidade também de ultrapassar aquilo que a gente busca como projeto para o governo e para o Estado, para a nação, para que se tenha uma continuidade, para que não seja um projeto estanque. Precisamos de conquistas duradouras, precisamos romper com a lógica de que o que aconteceu pode vir a acontecer de novo. A gente não pode viver sob a sombra do medo, da dúvida. Aqueles que dizem que aquela forma foi “boa” não conseguiram compreender o que realmente significou, porque se mantiveram instalados tranquilamente em seus espaços. A ditadura passou por algumas pessoas e não mudou seu modo de ser. Os que eram ricos enriqueceram mais ainda, os que eram pobres ficaram miseráveis. E as pessoas perderam seu direito de ser, mudaram de identidade. É isso que queremos? Qual o projeto de governo que a gente quer discutir este ano? Quais são as plataformas de luta?

Temos que pensar também em deixar de discutir questões individuais e, cada vez mais, discutir o coletivo. Precisamos resgatar nossa identidade; cada trabalhador precisa entender que é um cidadão e que, sendo cidadão, tem direitos e alguns deveres, principalmente o dever de lutar pela mudança. Durante o regime militar, tínhamos pessoas obrigadas a partir sem avisar os parentes, mudar de identidade… Mas, se pensarmos um pouquinho, a cada dia a gente muda de identidade sem estar na época da ditadura, porque você rompe com seus princípios cada vez que o patrão faz você burlar um companheiro seu de trabalho, quando você coloca um professor que não está preparado para avançar nessa discussão, quando você não garante formação para aquele professor, quando – voltando ao que a Nara falava das cartilhas e dos apostilados – formata um aluno padrão, sem respeitar sequer as particularidades de cada uma das regiões onde esses alunos estão. E padrão de quê? Um suposto padrão de “qualidade” que se busca para uma sociedade e que não é uma sociedade alternativa. Precisamos de uma sociedade de mudança. Se na época da ditadura as pessoas perdiam a identidade porque tinham que mudar de país, agora estamos perdendo-a dentro do nosso país, porque estamos sendo padronizados.

Essa é outra “herança” diretamente relacionada à campanha da Contee que vocês mencionaram, “Educação não é mercadoria”, porque, se o processo de financeirização data dos anos 2000, a opção de expansão via setor privado começa no governo militar…

Adércia – Temos observado esses conglomerados que vêm de fora do país se instalando ao redor e tomando força, passando por cima das características de cada uma das nossas regiões. O conglomerado não vem apenas se instalar e trazer uma educação de fácil acesso. Vem principalmente roubar aquilo que há de mais verdadeiro, que é a identidade dos cidadãos do nosso país. Essa formatação que vem sendo feita com os nossos jovens vai nos custar muito caro no futuro. Por isso é fundamental a discussão, neste ano, de uma das nossas principais bandeiras de luta: que se regulamente o setor privado e realmente o Estado assuma a obrigação de zelar pela educação. E que o setor privado seja de fato uma opção, e não a salvação para quem quer ultrapassar quem ficou na escola pública.

Nara – A gente que acompanha o PNE vê essa dificuldade em relação às nossas bandeiras. Estamos falando de democracia e educação e era uma proposta nossa de emenda, que foi aprovada na Conae, a garantia de gestão democrática. Mas em termos de gestão democrática para o setor privado não conseguimos avançar. Por quê? Porque será que dentro de uma educação mercantilista, com influência do capital estrangeiro, há espaço para ter democracia? Não tem. Então, essa posição de descrença de muitos companheiros que a Adércia coloca precisa ser modificada; a crença na mudança precisa ser resgatada.

Leia a Revista Conteúdo na íntegra aqui

 

 

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Fonte: Revista Conteúdo – Número 26

 

 

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Jorn. FERNANDA MACHADO

Assess. de Imprensa e Comunic. do Sinpro Goiás

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Contee abre série sobre a Copa

No último domingo, 1º de junho, faltando poucos dias para a abertura da Copa do Mundo de 2014, a Contee dá início a uma série de textos, matérias e entrevistas sobre o mundial de futebol e as discussões acerca do que ele representa de fato para o Brasil.

O primeiro artigo foi escrito pelo diretor teatral, documentarista e escritor Marcus Faustini para sua coluna no jornal O Globo. Vale a pena conferir e refletir!

Não vai ter culpa

 

Que o manifestante não seja preso e que o torcedor não seja hostilizado nesse junho que se apresenta

É possível torcer pela seleção de futebol brasileira, não abrir mão de celebrar a realização da copa no Brasil e ter pensamento crítico sobre toda lógica de mercado, com violações e desigualdades disparadas por ela. Por outro lado, é possível apoiar as manifestações por mais direitos e democracia, participar nas redes ou nas ruas, e não fazer coro com a narrativa capciosa que diz que nada mudou neste país e que incentiva por vezes o caos, para estratégias eleitorais conservadoras, distantes do que dizem as ruas. Sei que é a invenção de um lugar que não é fácil, mas necessário.

O professor de geografia da escola pública onde estuda minha filha ainda não conheço pessoalmente, mas, ao participar em casa dos trabalhos inventados por ele, acompanho todo seu esforço de formação crítica e promoção criativa do prazer de aprender. Trouxe para a turma dela, na última semana, um instigante desafio. Pesquisar e apresentar em sala os legados da Copa. Os ruins mas também os bons. Fiquei intrigado e achei interessante o relato de minha filha sobre a ênfase dada por ele na busca e no entendimento de bons legados. Um forte incentivo de pesquisa das contradições, além do que se apresenta de imediato, visto que até agora só havíamos conversado sobre o legado ruim. Animador! E isso não mudou em nada o entendimento desta adolescente com a necessidade, sempre conversada aqui em casa, de se posicionar e agir na superação das desigualdades. Proporcionou, sim, mais densidade na sua fala.

Nessa mesma semana um jovem artista ativista, no relâmpago de seus vinte e poucos anos, comentou que sempre foi ligado ao futebol-encorajador de seu pensamento de alegria compartilhada que hoje embala suas ações urbanas. Porém, estava um pouco amuado com algumas situações, em que seus pares de geração diziam que ver jogo durante a copa é coisa “de coxinha” — a maior das diminuições destes tempos de engajamento dos flyers de timeline.

Apesar de um pouco constrangido com esse lugar de conselho — nunca podemos nos levar tão a sério — mas pensando na estratégia do professor de geografia, que aposta na complexidade, comentei que era possível assistir aos jogos sem culpa, torcer e na sequência estar nas ruas ou nas redes celebrando e se manifestando. Que a política é também essa capacidade de agir recombinando coisas que estão separadas, inventar caminhos novos, outras presenças. Que foi isso que aconteceu em junho passado e nos rolezinhos, ocupas etc. Esse debate precisa ser feito junto com seus amigos, com alegria, sem opressão.

O esporte promove a liberdade do desenvolvimento de potencialidades físicas de um corpo, a sua pedagogia traz aprendizado de pactos através de regras e ludicidade da narrativa que embala vidas, nos une. No século XX, teve importante papel na promoção da paz entre os povos. Sabemos que o mercado capturou esses sentidos, diminuindo seus melhores valores ao consumo do mundo do espetáculo. Entretanto, juntar pessoas para torcer nos jogos é um ato comunitário, também expressão política. Vamos deixar apenas o mundo-mercado significar este momento histórico?

Nesse junho que se apresenta, sua duração será maior que o próprio efeito do solstício que abriga. Intermináveis dias e noites para o neófito militante que bate no peito na defesa do povo e carrega corajosamente a faixa do “Não vai ter copa”, e para o torcedor que deseja gritar hexaaaaaaaa campeãoooooo. Que os dois se misturem sem culpa. Que o manifestante não seja preso, que o torcedor não seja hostilizado por quem se acha “dono da verdade máxima para o bem da Humanidade”.

Vamos deixar a culpa para quem não fez diálogo com os movimentos sociais e culturais que alertaram desde sempre para o legado de desigualdades, que poderia ser evitado. Deixar também para quem criminalizou manifestantes, para quem é contra a cota nas universidades, pra quem é homofóbico, pra quem não gosta deste Brasil com classe média ampliada nos aeroportos. E também, por que não dizer, para quem quer ser esse dono da verdade, com o argumento de ser o supermilitante. Esse gosta de categorizar quem é revolucionário ou não, da mesma maneira que o conservador — que não quer mais mudanças — chama qualquer manifestante de vândalo. Estão juntos, na falta de alegria com as diferenças de modos de agir e de pensamento complexo sobre os acontecimentos.

Não vai ter culpa! Vale torcer pelo Brasil em campo e na política.]

*O artigo foi publicado originalmente no jornal O Globo de 27/05/2014 e republicado pelo Portal da Contee com autorização do autor

Fonte: Contee e O Globo