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Ensino superior insere métodos alternativos em aula

Instituições brasileiras estão alinhadas com estudo internacional que prevê tendências em educação

 

 

Aulas expositivas vão ceder espaço a métodos alternativos de ensino superior nos próximos cinco anos, diz pesquisa. O Horizon Report: 2014 Higher Education Edition, estudo desenvolvido anualmente pelo New Media Consortium (NMC) prevê tendências, obstáculos e tecnologias emergentes que serão adotadas em curto, médio e longo prazo. Para ilustrar as afirmações, a pesquisa relata, sobretudo, práticas de universidades estadunidenses. Em território brasileiro, instituições de ensino superior (IES) já apresentam algumas dessas alternativas, como educação via redes sociais, ou passam por fase de implantação destas.

Vice-diretor acadêmico da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), Alexandre Gracioso afirma que a ciência já demonstrava que as aulas expositivas – nas quais o professor explica conceitos aos alunos durante a maior parte do tempo – não eram ideais, mas faltava estruturar e sistematizar alternativas viáveis. O momento é positivo para mudanças de postura na área educacional – e o ensino superior, um campo fértil para elas. “Você consegue acelerar a aprendizagem engajando mais o estudante, chamando à participação e ao protagonismo em sua atividade”, sugere.

Ainda que critique o método tradicional, Gracioso entende que ele não deve ser completamente abandonado. Porém, ressalta que as aulas expositivas são mais valorizadas pelos alunos em meio a “um cardápio variado de experiências”.

Trabalho em redes sociais é tendência a curto prazo
O Horizon Report 2014 afirma que haverá crescimento do ensino nas redes sociais em até dois anos. Atualmente, a aplicação mais comum é a inclusão de vídeos e blogs para instruir. “Os educadores as estão utilizando como comunidades de prática profissional, comunidades de aprendizagem e como plataforma para compartilhar histórias interessantes sobre temas que os alunos estudam em sala de aula”, revela o estudo. O desafio, segundo a NMC, é desenvolver métodos criativos para a ferramenta virtual.

A mudança se justifica pela difusão acentuada das redes – 1,2 bilhões de pessoas usavam o Facebook regularmente em outubro de 2013, e 2,7 bilhões de pessoas frequentam mídias sociais, de acordo com reportagem da Business Insider. Além disso, a pesquisa também inclui o diálogo menos formal das redes como facilitador da comunicação e do ensino fora da universidade.

Na ESPM, cujo novo Plano Diretor Acadêmico estabelece metas em período próximo ao indicado pela pesquisa do NMC (as transformações devem ocorrer até 2020 na instituição), o suporte Blackboard Collaborate possibilita criação de redes sociais por disciplina, por exemplo. Além disso, a ferramenta NewsMonitor, permite reunir conteúdos e notícias entre públicos fechados e incentiva, assim, debate entre alunos e contextualização por parte do docente.

O Blackboard é citado pela pesquisa do NMC como exemplo de ensino colaborativo, após ser introduzido na Purdue University e na Florida International University, ambas nos Estados Unidos.

Ensino online deve ser integrado ao modelo presencial
A segunda tendência a curto prazo é justamente a integração entre os ensinos colaborativo, online e híbrido (aulas virtuais e presenciais). O modelo pedagógico de sala de aula invertida se inclui na categoria híbrida, pois os alunos aprendem através de vídeos em casa e tiram dúvidas em sala de aula. Na ESPM, ele está sendo incluído gradativamente nos cronogramas.

Em relação à educação exclusivamente online, os cursos em EAD apresentam crescimento maior que o do ensino presencial, como aponta reportagem doTerra. Segundo o Censo da Educação Superior de 2012, o mais recente realizado pelo Inep, o ensino a distância compreende 15,8% das matrículas.

A pesquisa ainda explica a relação entre os modelos e o ensino colaborativo. Para o NMC, a concepção do conhecimento em grupo é impulsionado pela ampliação de locais de trocas de ideias, como o ambiente virtual.

Alunos da FGV aprendem resolvendo problemas em aula
Outra característica interessante na adoção de redes sociais na educação, segundo Gracioso, é a predisposição do estudante em compartilhar seu conhecimento, entrar em contato com colegas com as mesmas dificuldades e interesses e criar seu próprio conteúdo. O que dialoga com a “transformação de estudantes consumidores em criadores”, tendência para até cinco anos exposta pelo estudo.

Na Escola de Economia de São Paulo (EESP), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), todas as disciplinas obrigatórias são desenvolvidas através da Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP). Segundo especialistas, o método estimula a criatividade, visto que o conhecimento nunca é exposto de maneira pronta pelo professor.

Em salas de aula de no máximo 15 pessoas, os estudantes se sentam em círculo, acompanhados por um docente. Este fica encarregado de apresentar o problema – gerir os estoques de uma empresa para maximizar os lucros, por exemplo. Os alunos passam a discutir, então, qual a solução, buscando o conhecimento em livros e na internet.

De acordo com a coordenadora de graduação da EESP, Mayra Ivanoff Lora, o dever do professor nesse sistema é garantir que os objetivos e resultados corretos sejam levantados. Para ela, o grande mérito é tornar o aluno “agente do aprendizado” e “personagem principal” na sala de aula. “De certa forma, eles reinventam o conteúdo a cada semestre”, conta.

Learning Analytics potencializará o ensino em até cinco anos
Também é através do Blackboard que a ESPM pretende desenvolver uma das tecnologias emergentes de aplicação em até um ano, conforme o estudo: o Learning Analytics. Essa inovação é adaptada da análise de consumo virtual (Big Data) e navegação dos clientes por empresas como Amazon e Google. Consiste no uso das metodologias do Big Data para estudar os hábitos de aprendizagem online das pessoas.

De acordo com o vice-presidente acadêmico da ESPM, a principal fonte disponível para o Learning Analytics são os Cursos Online Abertos e Massivos (MOOCs, pela sigla em inglês). “É possível (pelos MOOCs) identificar pontos de maior dúvida, lições com mais ou menos atenção, quais questões foram mais fáceis ou difíceis, que conteúdo foi melhor assimilado e qual gerou dificuldades. E, a partir disso, potencializar o ensino”, explica.

No Brasil, há universidades que oferecem iniciativas próximas ao modelo de MOOCs. Na Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), por exemplo, há a plataforma Unesp Aberta, que divulga aulas nas áreas de ciências exatas e humanas. No entanto, não apresenta acompanhamento, avaliação ou certificados. Da mesma forma, a USP tem seu espaço no E-aulas USP. Outra IES que inclui o processo é a Unicamp.

A tendência que se relaciona com a tecnologia de Learning Analytics é definida, pelo NMC, como “aumento dos dados de aprendizagem orientada e avaliação”. Ou seja, coleta e utilização efetiva desses dados na forma e abordagem dos conteúdos em aula. A expectativa do estudo é de que esse processo seja mais lento que a adoção da análise: de três a cinco anos.

Alternativas podem dificultar adaptação de estudantes após vestibular
Com tantos métodos criativos a serem adotados nas universidades – inclusive, a “briga” entre qual tecnologia promover na instituição é relatada pela pesquisa como um obstáculo a ser superado -, as diferenças entre instituições de educação básica e superior podem se acentuar. Gracioso acredita que o choque no processo de adaptação ao estudo após o ingresso nas IES deve ser maior.

“Todo o professor que passou por esse percurso ouviu em algum momento (quando usam a sala de aula invertida) um ‘por que você não me dá aula?’. Faz parte do sucesso da iniciativa aculturar o estudante a essa nova realidade.” Destaca, porém, que isso será importante para criação de autonomia do aluno ao final da transição.

Fonte: Terra / Educação

 

 

Jorn. FERNANDA MACHADO

Assess. de Imprensa e Comunic. do Sinpro Goiás