Está na LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação): o currículo da educação básica do Brasil deve ter uma “base nacional comum”, a ser acrescida de outros conteúdos a partir da realidade local, a critério de cada escola.
Para especialistas, entretanto, não é isso que acontece: falta uma referência verdadeiramente nacional e específica sobre o conteúdo que estará na lousa do professor.
Hoje, afirmam, não há uma clareza sobre quais conhecimentos serão repassados. Que clássicos devem ser lidos? Que momentos históricos devem ser aprofundados?
“Se você adota um currículo detalhado, no dia seguinte você passa a cobrar resultados. É uma ferramenta muito poderosa de controle social”, afirma Ilona Becskeházy, consultora de educação.
Outros argumentam que detalhar demais pode engessar o trabalho do docente em sala de aula e, no fundo, demonstra desconfiança sobre a formação do professor.
“Querem descobrir uma fórmula mágica para que esse professor reproduza um determinado conhecimento, como se fosse uma máquina”, afirma Dalila Oliveira, presidente da Anped (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação).
O tema ainda está longe de ser unanimidade entre os atores do setor. Mudanças no atual modelo são uma antiga demanda.
Em conjunto com o Consed (Conselho de Secretários Estaduais de Educação), o Ministério da Educação pretende sugerir uma reformulação do currículo do ensino médio. A proposta deveria ter sido apresentada em junho, mas foi adiada.
Além da LDB, escolas de todo o país devem seguir o que está previsto nas DCNs (Diretrizes Curriculares Nacionais), feitas pelo Conselho Nacional de Educação.
Elas também devem se guiar pelo que é definido em instâncias estaduais e municipais. Além disso, o MEC tem documentos que podem servir como orientadores para as escolas, como os PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais) e os RCNs (Referenciais Curriculares Nacionais).
Na prática, educadores ponderam que esse emaranhado de siglas não é o verdadeiro norteador da escola.
ESPECIFICIDADES
Autor de doutorado defendido na USP sobre o currículo de matemática do ensino médio, José Carlos Costa afirma que o conteúdo hoje dado nessa etapa é “genérico”, incapaz de atender às necessidades de alunos.
Afinal, questiona, por que um aluno que planeja estudar ciência política precisa ter as mesmas aulas de matemática que um que sonha em cursar engenharia?
Ele ressalta, porém, que o “segredo da boa educação” não está no bom método, e sim no bom profissional.
“Discutir currículo sem falar de formação é como contratar um time sem dar a bola”, compara Daniel Cara, que é coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação.
Fonte: Folha de S. Paulo