Uma pesquisa realizada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) com mais de 100 mil professores e diretores de escolas do segundo ciclo de ensino fundamental, revela que o Brasil é o país que tem o maior índice de violência contra professores; péssimas condições de trabalho; carga horária excessiva; baixa remuneração; sem investimentos na formação continuada e total descaso com a saúde mental.
A enquete foi feita com 34 países e constatou que 12,5% dos professores brasileiros já foram vítimas de agressões verbais ou intimidação de alunos pelo menos uma vez na semana. Por que precisamos urgentemente nos preocupar com a saúde mental dos professores e lutarmos por políticas públicas que priorizam a educação?
Porque 1 em cada 3 professores no Brasil estão com depressão
Uma pesquisa divulgada pela Globonews afirmou que o número de professores de escolas estaduais afastados por transtornos mentais ou comportamentais quase dobrou entre 2015 e 2016. De acordo com a apuração no ano de 2015, cerca de 25.849 professores apresentaram algum tipo de transtorno psiquiátrico desde moderado a grave. Em 2016 esse números chegou a 50.046. No ano de 2017, até setembro, houve 27.082 afastamentos de docentes. O receio quanto ao futuro como docente é dos gatilhos ao desencadeamento de transtornos mentais graves do tipo depressão, transtorno bipolar, crises de ansiedade e síndrome do pânico. Dentre estes, o mais grave é a depressão, pois mais de 90% das pessoas que optaram pelo suicídio apresentaram quadros agudos de depressão.
Sem políticas públicas que garantem a segurança nas escolas e uma educação integral, pública, politécnica e de qualidade desde à infância, há uma grande insatisfação de senso comum: a falta de atenção dada à saúde mental dos professores e dos estudantes. Entretanto, o atendimento psicológico nas escolas pode previnir massacres, transtornos mentais e suicídio.
O projeto de lei que determina que as escolas públicas ofereçam serviços de psicologia, foi aprovado pelo Senado e pela Câmara dos Deputados e aguardava sanção presidencial. A medida, caso fosse aprovada, valeria para a educação básica e as ensinos fundamental e médio. De acordo com o texto do projeto, os estudantes e professores seriam atendidos por equipes multiprofissionais — formadas por especialistas de diferentes áreas complementares. O veto está publicado na edição do Diário Oficial da União da quarta-feira, 9/10/2019, e se dá, segundo explicação do governo, porque cria despesas ao Poder Executivo sem indicar uma fonte de receita.
A pergunta que reverbera em nossa mente é: se acha que o investimento em educação e saúde mental é muito caro, deve se investir na ignorância e em paleativos de pósvenção aos atos extremos?
Nós que trabalhamos com prevenção aos transtornos mentais e ao suicídio na infância e adolescência, estamos indignados com este veto. Há anos lutamos para que a saúde mental seja vista como prioridade desde à infância; lutamos para que tenhamos uma educação pública, gratuita, integral, de qualidade e politécnica; e é claro, com profissionais da saúde mental atuando diariamente nas escolas.
Minha pesquisa é ciêntifica e de campo, e tenho percorrido, há mais de 4 anos, por escolas públicas, palestrando voluntariamente, e posso afirmar, sem nenhuma dúvida, que quando a Organização Mundial de Saúde revela dados de que o suicídio já é considerado uma epidemia; que até 2020 a depressão será a doença mais incapacitante do mundo, é verdade. Tirem o dinheiro dos multimilionários que ficaram multimilionários explorando a classe trabalhora desde à infância.
Mas o plano é tornar a educação pública cada vez mais precária com intuito de fomentar o ensino particular; revelar um professor oprimido e fracassado em termos gerais para que seja visto sempre como irrelevante no processo de aprendizagem; fazer com que os pobres acreditem que jamais serão inteligentes o bastante para alcançar um alto nível e, por isso, é melhor que aceitem condições miseráveis de vida; que vendam sua força de trabalho sempre por menos dinheiro e menos direitos.
Vivemos sob às rédeas de um sistema opressor, onde, a cada governo, os bancos, empresas, industrias e o agronegócio se enriquecem exacerbadamente em detrimento dos direitos da classe trabalhadora, que é a que produz suas riquezas. É muito cruel ter tudo engendrado para manipular, oprimir e explorar a classe trabalhadora desde à infância. O trabalhador já nasce numa “Caixa de Pandora” onde a esperança não existe. A concentração das riquezas na mãos de poucos, em detrimento daqueles que as produzem, é a força toda poderosa e destrutiva que transforma este mundo no paraiso de poucos e no inferno de tantos. E a ciência corrobora com esta síntese ao revelar que o sofrimento psíquico é oriundo do meio onde se tenta sobreviver. Por isso, o suicídio já é considerado uma epidemia.
Texto de Clara Dawn, psicopedagoga, psicanalista, escritora, pesquisadora e palestrante.
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