O assédio sofrido, principalmente, pelas mulheres em todas as esferas do espaço educacional – Ensino Fundamental, Médio e Educação Superior – é, infelizmente, uma realidade. O ambiente criado nas salas de aula precisa ser repensado na atualidade, pois pode se apresentar, muitas vezes, ao contrário do que deveria, como propício à manifestação de atitudes de autoritarismo e de práticas de assédio que atingem a integridade psíquica e a autoestima de alunas e alunos. O tema conquistou visibilidade no último dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, com denúncias de estudantes de escolas particulares de ensino médio de Goiânia, e seu enfrentamento precisa ser discutido coletivamente.
O Sindicato dos Professores do Estado de Goiás, ainda no início dos anos 1980, foi pioneiro na criação da Secretaria de Gênero e Etnia entre as entidades sindicais do país, e, na luta em defesa da emancipação e dos direitos das mulheres, compreende a complexidade do tema e a necessidade de apurar as denúncias para corrigir os casos comprovados, proporcionando aos professores acusados o direito de ampla defesa. O assédio – caracterizado como toda e qualquer conduta abusiva manifestando-se sobretudo por comportamento, palavras, atos, gestos e escritos que possam trazer dano à personalidade, à dignidade ou à integridade física ou psíquica de uma pessoa – está na contramão do dever dos/as educadores/as e das instituições de ensino que é de formar cidadãos/ãs autônomos/as e críticos/as.
E não é só: a emancipação das mulheres hoje também constitui conteúdo de estudo. Vale lembrar que recentemente, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) teve como tema “a importância do movimento feminista na luta pelos direitos das mulheres” e que o assunto está presente também na formação acadêmica nas Universidades do País.
Faz-se imperioso descortinar o véu que cobre práticas de assédio na área da educação – uma das mais propícias ao surgimento de processos perversos, principalmente devido à rivalidade entre os indivíduos favorecida pelo ambiente escolar e universitário. Na ausência de projetos compartilhados, de falta de diálogo e de democracia, as relações podem se tornar um campo fértil para manifestações de violência, intolerância, humilhação e indiferença à dignidade.
A prevenção implica a construção de relações mais humanas, capazes de desenvolver a autoestima, bem como uma nova mentalidade no ambiente escolar e acadêmico, juntamente com o combate às práticas de assédio, o que necessita exige a necessidade de instrumentos e mecanismos de controle e de punição dos/as responsáveis. O mundo mudou e a educação precisa ser transformadora para acompanhá-lo. No próximo dia 29 de março, será enviada ao espaço a primeira missão espacial com tripulação exclusivamente feminina. Possivelmente, as astronautas que realizarão essa missão histórica tiveram professores e professoras que as encorajaram a ir além do seu tempo e serem protagonistas da história.
Durante a ocasião do XI Congresso do Sinpro Goiás, realizado em outubro de 2018, que empunhou a bandeira da “luta contra todo tipo de discriminação racial e todas as formas de preconceito” na sociedade e na escola, o Sinpro Goiás reforçou seus princípios máximos de luta por uma cultura que supere o machismo, o feminicídio e que efetive o direito civil à igualdade entre homens e mulheres e o respeito aos direitos políticos e sociais da mulher. Nós professores, e os demais membros da sociedade civil, temos ainda uma grande tarefa pela frente: retirar o Brasil da posição de 5° país que mais mata mulheres no mundo e o estado de Goiás da posição de 2° mais violento contra mulheres do ranking nacional. Ao contrário de reforçar tal cultura, façamos cada um de nós a nossa parte para mudar essa realidade.
Diretoria do Sinpro Goiás