Um calendário registra a passagem do tempo e as datas que entraram para a história. Este calendário especial organizado pela Contee e lançado na última sexta-feira (28), durante o evento “A mulher nos anos de chumbo” e a instauração da Comissão da Verdade dos Trabalhadores em Educação do Setor Privado, não começa pelo mês de março à toa. Este é o mês que marca as comemorações pelo Dia Internacional da Mulher. É também aquele no qual, em 2014, completam-se os 50 anos dos fatos que culminaram no golpe de 1964, completado no dia 1º de abril daquele ano, fato que convoca a uma reflexão profunda sobre aquelas pessoas que, a partir dali, lutaram incansavelmente pela restauração da democracia no Brasil.
A opressão de gênero foi acirrada no Brasil com o golpe militar iniciado justamente no mês que deveria ser símbolo de seu combate. Soldados, delegados, sargentos e as mais diversas autoridades, protegidos pela clandestinidade dos centros de tortura, desfrutaram do poder de “ensinar” às prisioneiras o lugar que lhes era reservado na velha ordem mundial. E a coragem com que as prisioneiras enfrentaram a tortura indignava seus torturadores, irritados por elas não se humilharem diante da suposta superioridade da farda, das armas e da força masculina.
Violências de todos os tipos, inclusive sexual, foram cometidas contra mulheres durante a ditadura militar e atingiram não apenas aquelas diretamente envolvidas no conflito, mas também as que participaram de movimentos de resistência e aquelas cujos familiares foram vítimas de perseguição política, mortos ou que seguem, ainda hoje, desaparecidos.
Assim, neste calendário, também intitulado “A mulher nos anos de chumbo”, a Contee mostra, através de fragmentos das histórias de algumas mulheres que ousaram enfrentar a ditadura, como foi a atuação feminina na resistência ao regime de repressão. Aos meses já passados – janeiro e fevereiro –, fica o registro de algumas daquelas que morreram na luta pela democracia e que, dessa forma, ainda estão vivas na história do povo brasileiro.
Tantas foram as vítimas do regime militar brasileiro que apenas 365 dias não seriam suficientes para honrá-las. Nestas páginas, portanto, estão presentes apenas alguns exemplos de guerreiras, escolhidas pela diversidade de experiências – nas prisões ou nas ruas, com seus próprios nomes ou na clandestinidade, sob tortura ou no exílio, em suas cidades natais ou fora do Brasil cumprindo tarefas partidárias – que remetem ao mesmo comprometimento com a democracia. Por meio delas, a Contee presta sua homenagem a todas aquelas que ousaram enfrentar o regime.
Milhares de histórias, a exemplos dessas, ainda restam para serem contadas. Mas no cerne de cada uma delas, uma diferente da outra, enxerga-se a forma como o machismo é parceiro direto do autoritarismo, contribuindo para sustentar as formas mais cruéis de poder político e opressão. Para combatê-las, exigem-se, de homens e mulheres, igualdade também na coragem, no idealismo e no amor à liberdade.
Fonte: Portal Contee