O início das aulas para Beatriz Koh, 8, foi mais custoso que o de outras crianças de sua idade. “Ela chegava da escola chorando”, conta o pai, Eduardo Koh, empresário. “A Bibi tinha dificuldade para fazer amigos e demorou para se adaptar.”

Beatriz passou por um período descrito popularmente como fobia escolar, medo excessivo de ir ou permanecer na escola capaz de provocar crises de choro, náuseas, tonturas, dores de cabeça e suor excessivo em alguns alunos.

Um dos primeiros artigos sobre o assunto, “School Phobia And Its Treatment” (“A fobia escolar e o seu tratamento”), publicado no “British Journal of Medical Psychology”, em 1964, mostrou que a fobia escolar é caracterizada como ansiedade de separação, ou seja, dificuldade da criança de se adaptar a um novo espaço sem a presença do vínculo familiar do qual é dependente –a mãe, na maior parte dos casos.

É por esse motivo que esse tipo de fobia se diferencia de outras mais conhecidas, como a de elevador e de altura.

A Associação Americana de Depressão e Ansiedade estima que a ansiedade de separação acometa 5% das crianças em idade escolar.

“Nos casos mais graves, o aluno apresenta forte dependência da figura materna”, explica Ana Olmos, psicoterapeuta especializada em avaliação neuropsicológica infantil. “A falta de autonomia pode atrasar a formação de novos vínculos e a criança se sente excluída, o que é um gatilho para fobia”, diz.

Bullying e problemas na família como agressões e separações podem agravar ou iniciar o transtorno.

PREOCUPAÇÃO NORMAL

A ansiedade, porém, se dá em vários níveis e nem sempre é preocupante. Segundo terapeutas e educadores, alguma dificuldade no começo da vida escolar é comum. “Há uma dificuldade inicial de convivência com os outros na escola”, diz Ascânio João Sedrez, diretor do Colégio Marista Arquidiocesano, na Vila Mariana. “São muitos os desafios dessa fase”.

A maioria das crianças se adapta em uma semana, aproximadamente –período em que alguns colégios permitem que os pais permaneçam na escola, mas em salas separadas para não interromper a transição.

“Mas quando essa ansiedade perdura por algumas séries é necessário analisar se há um transtorno mais grave”, afirma Mônica Miotto Bertolini, coordenadora pedagógica do Colégio São Judas Tadeu, no bairro do Cambuci. “Já tivemos uma aluna com síndrome de pânico associado a esse medo”, diz.

Nessas circunstâncias, a transferência para um colégio especializado pode ser indicada para a superação do transtorno. “As crianças se adaptam mais facilmente quando encontram outros colegas na mesma situação”, explica Elizabeth Polity, terapeuta familiar e coordenadora do Colégio Winnicott, no Jardim Paulista.

É o caso da Nathália Silveira Dias, 13. Após frequentar quatro escolas e receber diagnóstico de transtorno de deficit de atenção e hiperatividade (TDAH), ela só conseguiu se adaptar em uma escola específica. “Ela se sentiu muito excluída”, lembra a mãe Renata Silveira Dias, dona de casa. “Hoje ela se reconhece nos outros alunos.”

Caso a avaliação médica descarte transtornos associados, a ansiedade de separação pode ser tratada com terapia cognitivo comportamental. Nela, a criança aprende a substituir hábitos de dependência por outros que a habilite a enfrentar os desafios do novo espaço coletivo.

A terapia familiar também pode ajudar a desatar vínculos de dependência. “Com a terapia, a Beatriz passou a estabelecer novas relações e hoje ela é líder nas brincadeiras”, diz o pai.

Fonte: MONIQUE OLIVEIRA
Folha de São Paulo / Uol

 

 

 

 

 

Jorn. FERNANDA MACHADO

Assess. de Imprensa do Sinpro Goiás