Função é estratégica para mediação entre as diversas instâncias educacionais

 

Confira a reportagem da revista Educação / Janeiro 2014:

 

Cada escola tem características pedagógico-sociais irredutíveis quando se trata de buscar soluções para os problemas que vive. A realidade de cada escola – não buscada por meio de inúteis e pretensiosas tentativas de “diagnóstico” – mas como é sentida e vivenciada por alunos, pais e professores, é o único ponto de partida para um real e adequado esforço de melhoria.

José Mário Pires Azanha. Documento preliminar para reorientação das atividades da Secretaria. Secretaria de Estado da Educação de São Paulo, 1983.

Retomamos esta afirmação de Azanha, que foi exaustivamente discutida pelos educadores da rede estadual paulista, na década de 80, porque ela nos lembra que não se pode falar da escola, mas sim de cada escola em particular.

Como pensar em tempos-espaços iguais para o desenvolvimento de propostas curriculares, se as escolas não são iguais? Como fazê-lo, se não dá mais para pensar em escolas urbanas e rurais, pois já temos urbanas centrais e de periferia, rurais de campo e ribeirinhas, bem como variadas combinações de cada um desses tipos?

Se o instituído pelo currículo tem uma base legal – e precisa tê-la, para garantir a Educação Básica para todos, num Estado que se quer democrático, como atentar para essas tantas diferenças não só regionais, mas dentro de cada região?

Parece-nos, então, mais apropriado pensar os atores da escola singular – gestores, professores, auxiliares de apoio e alunos -, em suas relações com as questões curriculares, sem perder de vista que estas são relações de indivíduos portadores de subjetividades com um instituído que lhes é apresentado, via de regra, como objeto a ser manipulado, que a alguns agrada, a outros desagrada. Nessas relações pedagógicas intersubjetivas direção-professor, professor-professor, professor-aluno, aluno-aluno, e destes com o saber instituído pelos currículos que lhes são apresentados, aparecem os conflitos, as contradições, as perdas de referência dos elementos estruturantes de seu modus vivendi. É certo que aparecem também as aderências ao proposto e as tentativas de fazê-lo o melhor possível.

Para melhor entender essas relações, escolhemos, neste texto, o coordenador pedagógico (ou professor-coordenador ou coordenador pedagógico-educacional ou outro termo que designe esse profissional) como ator privilegiado para nossa discussão.

A escolha se deve ao fato de entendermos que ele tem, na escola, uma função articuladora, formadora e transformadora.
Portanto, é o elemento mediador entre currículo e professores. Assim, esse profissional será, em nosso modo de ver, aquele que poderá auxiliar o professor a fazer as devidas articulações curriculares, considerando suas áreas específicas de conhecimento, os alunos com quem trabalha, a realidade sociocultural em que a escola se situa e os demais aspectos das relações pedagógicas e interpessoais que se desenvolvem na sala de aula e na escola.

Esclarecemos, inicialmente, que não aceitamos o coordenador pedagógico como “tomador de conta dos professores”, nem como “testa-de- ferro” das autoridades de diferentes órgãos do sistema.

Ele tem uma função mediadora, no sentido de revelar/desvelar os significados das propostas curriculares, para que os professores elaborem seus próprios sentidos, deixando de conjugar o verbo cumprir obrigações curriculares e passando a conjugar os verbos aceitar, trabalhar, operacionalizar determinadas propostas, porque estas estão de acordo com suas crenças e compromissos sobre a escola e o aluno – e rejeitar as que lhes parecem inadequadas como proposta de trabalho para aqueles alunos, aquela escola, aquele momento histórico.

O que competiria, então, ao coordenador pedagógico?

– Como articulador, seu papel principal é oferecer condições para que os professores trabalhem coletivamente as propostas curriculares, em função de sua realidade, o que não é fácil, mas possível;

– Como formador, compete-lhe oferecer condições ao professor para que se aprofunde em sua área específica e trabalhe bem com ela;

– Como transformador, cabe-lhe o compromisso com o questionamento, ou seja, ajudar o professor a ser reflexivo e crítico em sua prática.

Como articulador, para instaurar na escola o significado do trabalho coletivo, é fundamental que o coordenador pedagógico possibilite ações de parceria, de modo que, “movidas por necessidades semelhantes, (as pessoas) se implicam no desenvolvimento de ações para atingir objetivos e metas comuns”, de modo a pôr em movimento as metas curriculares propostas, conforme descrito em nosso livro Aprendizagem do adulto professor (Edições Loyola, 2006).

O coordenador pedagógico será, então, aquele que, conhecendo essas propostas, tendo participado de sua elaboração/adaptação às necessidades e objetivos daquela escola, possibilita que “novos significados sejam atribuídos à prática educativa da escola e à prática pedagógica dos professores”, ( O coordenador pedagógico e os desafios da educação , Edições Loyola, 2008).

Outro aspecto importante dessa articulação é a possibilidade de interdisciplinaridade, a fim de que o compromisso com a formação do aluno se traduza na não-fragmentação, na conciliação e confrontação de propostas e ações curriculares.

Visto como formador, dois aspectos devem ser destacados na função do coordenador pedagógico:
a) seu compromisso com a formação tem de representar o projeto escolar-institucional e tem de atender aos objetivos curriculares da escola;

b) o compromisso com o desenvolvimento dos professores tem de levar em conta suas relações interpessoais com os demais atores da escola, alunos, pais, comunidade, sendo estas relações entendidas em sua diversidade e multiplicidade, aceitas como se apresentam, aproveitadas como recurso para o processo formativo, como explicado em O coordenador pedagógico e questões da contemporaneidade.

Finalmente, como transformador, espera-se sua participação no coletivo da escola como aquele que permite e estimula a pergunta, a dúvida, a criatividade, a inovação. Só assim a escola se instituirá não apenas como espaço de concretização do currículo, mas também como espaço de mudanças curriculares necessárias e desejadas pelos professores, para cumprir seus objetivos educacionais.

Laurinda Ramalho de Almeida e Vera Maria Nigro de Souza Placco são professoras do Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação: Psicologia da Educação, da Faculdade de Educação da PUC-SP.

 

Fonte: Revista Educação

 

 

 

Jorn. FERNANDA MACHADO

Assess. de Imprensa do Sinpro Goiás