Um estudo da Faculdade de Educação da Universidade da Pensilvânia (Penn GSE), nos Estados Unidos, concluiu que há pouco engajamento dos estudantes aos MOOCs (massive open online course). O novo conceito de cursos abertos, via internet, busca levar o conhecimento a um público grande e diversificado de maneira gratuita. No entanto, ainda que a procura seja bastante significativa, o número de usuários ativos tende a cair consideravelmente após uma ou duas semanas de curso. A Penn GSE analisou um milhão de usuários em dezesseis cursos da Coursera, uma das mais conhecidas empresas do ramo.

A pesquisa apontou que apenas 4% dos alunos, aproximadamente, concluem o curso em que estão inscritos, e as aulas que exigem menos trabalhos tendem a ter mais alunos completando as atividades. Somente metade dos registrados assistiu a, pelo menos, uma lição do curso.

No Brasil, a realidade não é muito diferente – o que não é entendido necessariamente como algo ruim por especialistas. Dos 400 inscritos no MOOC Moodle 2.5, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), aproximadamente 200 concluirão, afirma o coordenador do núcleo de educação a distância (EAD) da universidade, Klaus Schlünzen Jr. “Em termos relativos, o abandono é questionável. Mesmo com a evasão elevada, o número é interessante, por ser um curso de massa”, afirma. Além disso, esta é uma oportunidade para que a universidade chegue a cidades pequenas, como no interior de São Paulo, e a lugares distantes.

João Mattar, professor especialista em EAD da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e da Universidade Anhembi Morumbi, está ciente de que o nível de abandono é grande. “A pessoa não está acostumada com EAD e se inscreve achando que vai ser fácil”, afirma. Para ele, a noção de abandono deve ser reconsiderada quando se trata de curso gratuito. Além disso, muitos dos alunos dos MOOCs estão interessados no aprendizado e não na obtenção do certificado de conclusão.

De fato, a noção de cursos massivos, abertos e online não está originalmente vinculada ao certificado, explica Mattar. Os MOOCs tiveram origem com as experiências pedagógicas dos conectivistas, como George Siemens. Eles propunham uma nova teoria de aprendizagem pensando os alunos dentro da rede que os liga. Em 2009, buscando entender como suas teorias funcionariam em grupos maiores, eles organizam os primeiros MOOCs. “No início, com os conectivistas, não havia a ideia de certificados. Depois é que veio isso com a criação de um modelo de negócios”, diz Mattar.

MOOCs no Brasil
A experiência dos MOOCs no Brasil ainda é incipiente. Ainda que o País seja o terceiro em número de usuários (atrás apenas de Estados Unidos e Índia), a oferta de cursos é pequena. A grande onda de procura pelos cursos, a nível mundial, veio em 2012, mas até pouco tempo atrás não havia nada organizado em língua portuguesa, afirma Mattar. A experiência do Veduca, com docentes de grandes universidades oferecendo cursos gratuitos, foi um importante passo. Contudo, o professor ressalta que, em muitos casos, o portal não oferece exatamente MOOCs, mas disponibiliza aulas.

Na Unesp Aberta, plataforma que oferece cursos gratuitos, sem avaliação, certificado ou acompanhamento, há 53 mil cadastrados e uma média de 40 mil acessos ao mês, afirma Schlünzen Jr. Na universidade, há apenas um MOOC certificado, o Moodle 2.5, que introduz docentes e servidores à plataforma de apoio à aprendizagem Moodle. A instituição trabalha para mudar isso em 2014, mas a alteração exige mais recursos e pessoas.

João Mattar destaca que, com o surgimento dessa modalidade de cursos, o EAD pago perdeu força no Brasil ao caminhar para um modelo muito voltado para o lucro. “A instituição (de EAD pago) disponibiliza o material e faz um teste de múltipla escolha, o que não exige um professor para acompanhar ou corrigir provas. Eu não gosto desse modelo. Em um ou outro caso até funciona, mas em geral precisa de interação e acompanhamento do professor, até para manter a motivação do aluno”, diz. Para ele, é positivo que o aluno tenha, pelos MOOCs, a oportunidade de ter aulas com os melhores professores gratuitamente, em vez de pagar por aulas que nem sempre oferecem acompanhamento.

Perfil do aluno
Uma das características mais marcantes dos MOOCs é o perfil variado dos usuários. “Temos professoras em meio período que utilizam nossos materiais para se aprimorar, temos jovens que ainda nem têm idade universitária, mas que querem se preparar para o ensino superior. É um público bem diversificado”, afirma Schlünzen Jr.

Em um curso de língua portuguesa lecionado por Mattar, voltado para alunos que precisavam compensar a formação fraca para entrar na universidade, o perfil dos usuários acabou indo bem além do previsto. Alunos do ensino médio, estrangeiros, concurseiros e até mesmo uma senhora de 81 anos, que buscava exercitar o cérebro, se matricularam.

Fonte: Terra Educação/Sinpro-RS

Jorn. FERNANDA MACHADO

Assess. de Imprensa do Sinpro Goiás