O Programa de Qualificação de Docente e Ensino de Língua Portuguesa (PQLP), da Capes, envia professores brasileiros ao Timor Leste. A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) é a instituição responsável pelo projeto em que brasileiros contribuem com a formação de professores no país.

País do Sudeste Asiático, o Timor Leste foi colônia portuguesa por 400 anos, dominado pela Indonésia por duas décadas e, enfim, se tornou independente em 2002. Em 2000, o português foi adotado como língua oficial. “Com a devastação deixada pela invasão, qualquer pessoa que soubesse um pouco de português passou a ensinar”, explica a professora Suzani Cassiani, uma das coordenadoras do programa.

Suzani está envolvida com o projeto há seis anos e já visitou o Timor Leste nove vezes. Ela conta que o programa funciona em parceria com a Universidade Nacional de Timor-Leste (UNTL), a única instituição pública dedicada ao ensino superior no país. Os docentes enviados realizam trabalhos de qualificação de professores, ensino de português em ministérios, orientação de trabalhos, grupos de pesquisa e até atuam na realização de programas educativos para televisão.

Bióloga de formação e doutora em Educação, a professora do Departamento de Metodologia de Ensino da UFSC afirma que é muito importante orientar os docentes brasileiros para entender a outra cultura. “Não é uma missão colonialista. Não se pode ir achando que vai mudar um povo”, ressalta.

São grandes as diferenças culturais. Suzani afirma que, às vezes, pode ser difícil compreender tradições como o Barlaque, dote oferecido por homens à família da noiva para casar. “Em uma primeira impressão, pode parecer que é uma compra da mulher. Porém, mais a fundo, podemos perceber que é uma questão cultural, que originalmente é de respeito e valorização”, explica.

Suzani afirma que a convivência entre brasileiros e timorenses é muito boa. “Temos uma teoria de que os brasileiros conseguem compreender as dificuldades dos professores locais, pois lidamos com situações parecidas. Condições ruins e salários baixos, por exemplo”, explica. Ela conta que os timorenses chamam os brasileiros de irmãos e os portugueses de pais. “Acabamos criando uma relação de afetividade, são pessoas muito bacanas. Passa da questão de solidariedade e gratidão, vira amizade”, diz.

A parceria entre a UFSC e a UNTL deu tão certo que eles passaram a realizar também outros projetos em conjunto. Este ano, a universidade catarinense recebeu 15 alunos das áreas de graduação e pós do Timor Leste para um programa de intercâmbio pelo Programa de Estudantes-Convênio de Graduação (PEC-G).

O Programa 
O PQLP, oferecido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), existe desde 2008, enviando os primeiros professores em 2009. O último edital está com as inscrições abertas até 17 de dezembro, para ficar de seis a 18 meses no Timor Leste. Serão 50 bolsas, 44 de estágio docente, com auxílio mensal de 2.100 euros, e seis vagas de articulador pedagógico, com bolsa de 2.300 euros mensais.

Para se inscrever, os educadores devem enviar uma proposta de projeto, além de outras informações. Depois disso, participam de uma entrevista e uma prova escrita. “Percebemos que muitos candidatos sabiam muito pouco sobre o país, por isso buscamos fazê-los aprender um pouco sobre o Timor durante o processo”, explica Suzani.

Rede Salesiana envia docentes ao Haiti
Em julho deste ano, quatro professores da Rede Salesiana de Escolas (RSE) viajaram ao Haiti para participar do projeto “Professores Sem Fronteiras”. A iniciativa tinha o objetivo de compartilhar práticas esportivas e educacionais do Brasil com os alunos das escolas e obras sociais salesianas do país.

A diretora do Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, Irmã Adair Sberga, foi a coordenadora do projeto. Ela conta que o pedido veio do próprio Haiti, e os professores brasileiros visitaram diversas escolas no país. “Os haitianos gostam muito de esporte, por isso enviamos professores da área de Educação Física”, explica.

Além de organizar a ida dos docentes, Irmã Adair realizou uma campanha de coleta de materiais esportivos com os alunos da rede. “Foi muito legal ver o interesse dos jovens, tanto dos haitianos que foram beneficiados na experiência, quanto dos que se motivaram para doar aqui no Brasil”, afirma. Segundo a diretora, eles conseguiram juntar mais de 200 quilos em materiais. “Tivemos que ultrapassar algumas dificuldades, como o contato e o transporte das arrecadações. Fizemos muitas reuniões”, conta.

Para participar, a diretora recebeu inscrições de cerca de 15 docentes. A escolha foi por sorteio. No fim, foram selecionados dois professores de Campinas, um da capital paulista e um do próprio colégio que dirige. “Com certeza foi um experiência muito gratificante para todos nós”, descreve.

O Haiti é um dos países mais pobres das Américas e ainda sofre com os resultados do terremoto em 2010. Por isso, Irmã Adair conta que os professores retornaram com um sentimento de mudança interior e que “voltaram outros”. “Foi mesmo um choque de realidade para eles”, afirma.

Fonte: terra.com/educacao

Fernanda Machado

Assess. de Imprensa do Sinpro Goiás