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O candidato dos capitalistas

 

Sob o ponto de vista marxista as eleições são uma expressão da luta de classes, um momento em que sobressai o entrechoque de interesses econômicos – e por extensão sociais e políticos – divergentes. Um fenômeno que keynesianos batizaram de conflito distributivo, um elegante eufemismo para o conceito adotado por Karl Marx, temido e condenado com virulência pela ideologia burguesa dominante.

Esta luta nem sempre transparece com nitidez nos fatos. Muito menos nas narrativas dominantes impostas pela mídia empresarial, que geralmente jogam uma cortina de fumaça sobre os fatos para mascarar a realidade, vendendo neste momento, por exemplo, a falsa ideia de que o que estará em jogo no dia 28 de outubro é a luta contra a corrupção, supostamente a raiz de todos os males brasileiros.

Dimensão global

O conflito e as contradições de interesses não se verificam apenas entre classes antagônicas, mas também no interior de uma mesma classe, e na modernidade adquiriu ainda uma dimensão global e globalizante, com o protagonismo da aristocracia financeira internacional e das grandes potências por ela controladas, como é destacadamente o caso dos EUA, no momento o senhor das guerras híbridas que se julga no direito de intervir nos assuntos domésticos de todo mundo, atropelando os direitos das nações à autodeterminação.

Em momentos de crise, como este que estamos vivendo, fica mais difícil mascarar o caráter de classes das batalhas políticas. Lembremos o protagonismo da Fiesp e outras entidades empresariais no golpe de Estado travestido de impeachment, em 2016, bem como na aprovação da reforma trabalhista, da terceirização irrestrita, da maior abertura do pré-sal ao capital estrangeiro e do novo regime fiscal, estabelecido para satisfazer o mercado financeiro, que tem por fundamento o congelamento dos gastos públicos primários por 20 anos.

Posição dos trabalhadores

Nestas eleições, marcadas por uma aguda polarização entre esquerda e extrema-direita, o entrechoque de interesses ganha maior nitidez no comportamento das diferentes classes e grupos sociais. As centrais sindicais decidiram marchar juntas a favor de Haddad, sinalizando uma única orientação à classe trabalhadora no segundo turno, apesar das diferenças políticas e ideológicas.

Não há uma só organização representativa da classe trabalhadora com Bolsonaro. Não poderia ser diferente, O candidato da extrema direita acena com o fim dos sindicatos e da CLT e novos contratos de trabalho regulados pela negociação individual entre patrões e empregados. Na condição de deputado federal, há mais de 20 anos, votou invarialmente contra os trabalhadores. Seu vice, general Mourão, prometeu em encontro com empresários acabar com o 13º Salário.

A dupla também assumiu compromissos com a reforma da Previdência, privatizações, desnacionalização da economia, congelamento dos gastos e outras medidas amargas, contraproducentes para o desenvolvimento nacional e notoriamente contrárias aos interesses do povo trabalhador e da nação brasileira.

Imperialismo

Bolsonaro, que cometeu a infâmia de prestar continências diante da bandeira dos EUA e prometer absoluta lealdade a Donald Trump (numa grotesca exibição do complexo de vira lata referido por Nelson Rodrigues), goza do apoio da Casa Branca, das multinacionais e da esmagadora maioria da burguesia brasileira, que há muito uniu seu destino e projeto político reacionário aos dos EUA.

Idolatrado como um mito pelos mais ricos, o candidato de vocação fascista promete radicalizar a política de restauração neoliberal em curso no Brasil desde o golpe de Estado de 2016. É um Temer piorado pelo tempero do autoritarismo, defensor da tortura, da violência e criminilização das lutas sociais.

Crime sem castigo

O escândalo do financiamento ilícito das fake news disparadas através do Watsapp contra Haddad (denunciado pela Folha de São Paulo e minimizado pela Globo e outros veículos), envolvendo um Caixa 2 empresarial de centenas de milhões de reais, ilustra bem o grau de envolvimento dos nossos capitalistas com o líder da extrema direita, assim como a luta de classes subjacente ao processo eleitoral. Trata-se de um crime (cometido pelo capital) que provavelmente ficará impune, pois o “mito” conta com a cúmplice conivência do Poder Judiciário e da mídia.

Não é sem razão que Haddad goza do apoio unânime das centrais sindicais e dos movimentos sociais. Seu programa prevê a interrupção e reversão do retrocesso impostos pelo governo ilegítimo de Michel Temer, começando pela revogação da reforma trabalhista e da Emenda Constitucional 95, que determinou o congelamento dos gastos públicos. São iniciativas que contemplam os interesses da classe trabalhadora e também da nação brasileira, pois vão abrir caminho à recuperação da economia e do emprego.

Embora os fatos indiquem quem é quem, ou seja quem de fato é amigo e quem é inimigo do nosso povo, milhões de trabalhadores e trabalhadoras brasileiras, sobretudo os que sofrem o flagelo do desemprego ou naufragaram no desalento, estão se deixando levar pelo canto de sereia do capitão fascista. São pessoas compreensivelmente desiludidas com o sistema político e desnorteadas pelas fake news e a narrativa enganosa da mídia hegemônica. É preciso redobrar os esforços para abrir os olhos do povo e virar o jogo a favor da democracia, da soberania nacional e da valorização da classe trabalhadora. Ainda temos tempo de barrar a vitória do fascismo. O grito de alerta ecoou forte nas manifestações deste fim de semana, afastou o desânimo e injetou sangue novo na campanha. É Haddad, 13, no domingo.

Umberto Martins é jornalista, assessor da presidência da CTB e autor de O golpe do capital contra o trabalho

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