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As reverências de um agnóstico

      O notável escritor francês, Honoré de Balzac, em sua emblemática novela “A Missa do Ateu”,  publicada em 1836, narra a história de um cidadão ateu que, com freqüência, encomendava uma missa, em homenagem a um dileto amigo, já morto, e que era religioso. O mais interessante da novela é que o amigo vivo comparecia à igreja, em todas as missas, que eram celebradas pelo amigo morto.

        Pois bem. Não sei se chego a ser um ateu, pelo menos, agnóstico o sou, com convicção. Nesta condição,  apesar de não encomendar uma missa, quero, como amante incondicional da liberdade e da justiça social, que são indissociáveis, render as minhas singelas, mas, sinceras e sentidas homenagens, a um religioso convicto, que fez do sacerdócio a sua opção de vida, e que acaba de ir estudar a geologia do campo santo- parafraseando Machado de Assis, em sua obra “Dom Casmurro”-, o inesquecível e inigualável Dom Tomás Balduíno, que faleceu no dia 2 de maio corrente.

           Pode-se dizer, sem medo de errar, que o principal sacerdócio de Dom Tomás era a luta pela liberdade e pela cidadania plenas; bandeiras que empunhou com galardia,  e bravura indômita, pela vida toda.

        Desde a primeira hora, fez cerrada oposição à ditadura militar que, por longos vinte e um anos (1964 a 1985), semeou o terror e a miséria política e social, em todos os rincões do Brasil. Foi baluarte da Assembleia Nacional Constituinte, em defesa de uma nova realidade social; e, após a promulgação da Constituição de 1988,  da efetivação dos fundamentos da República, por ela implantada, da dignidade da pessoa humana, com destaque para a valorização e do primado do trabalho e do bem estar e da justiça sociais.

         Dom Tomás, como Pascal, jamais tolerou o eu; sempre teve como norte o nós. Para ele, o individual, incondicionalmente, submete-se ao coletivo.

        É sabido por todos que o perecimento do corpo não implica o da pessoa. Isto porque, cada ser humano, sobrevive à própria morte, seja pelo que fez de bom ou de ruim. Dom Tomás, com certeza, por todo o sempre, será lembrado e reverenciado pelo que fez de bom,  em prol de uma nova realidade social, justa e fraterna, na qual ele acreditava e pela qual lutou bravamente, de todo o coração.

         Dom Tomás pode fazer suas as inapagáveis palavras do poeta Horácio, pronunciadas há mais de vinte séculos: “Eu não morro de todo”; é verdade que o seu corpo, como dizia Guimarães Rosa, ficou encantado, mas, a sua pessoa não morrerá, jamais.

        Apesar de em tempo algum desfrutar do privilégio do convívio com Dom Tomás,  os nossos amigos em comum,  os Conselheiros do Conselho Estadual de Educação de Goiás, Antonio Cappi e Sebastião Donizete de Carvalho, dizem-me, em todas as oportunidades em que conversamos sobre a sua trajetória e a sua conduta idônea, que ele, sem nenhum favor, era e será sempre, um maestro e um cônsul, como cidadão e sacerdote, e um general de todos os quilates possíveis, em defesa do bem estar e da justiça sociais, com especial ênfase na luta pela preservação ambiental, pela causa indígena, pela reforma agrária e pela denúncia da violência no campo.

           Por tudo que vi e ouvi de Dom Tomás, nos últimos cinqüenta anos, ouso afirmar que o Evangelho o reverenciou, na mesma proporção que foi por ele reverenciado.

          Se é fato que o céu existe, quer como lugar físico, quer como estado d’alma- como dizia o Papa João Paulo II-, em todas as ágoras (reuniões), que, nele se realizarem, a partir do último dia 2, Dom Tomás, por certo, será um dos coordenadores.

    Ante todas estas razões. Digo, também, de coração: Dom Tomás!, receba as sinceras  homenagens e infindas reverências de um agnóstico.

 

 

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José Geraldo de Santana Oliveira

 

Assessor Jurídico do Sinpro Goiás, da Fitrae-BC, Fitrae MTMS, Sintrae-MS, Sintrae-MT, Sinpro Pernambuco, Consultor Jurídico da Contee e Assessor Jurídico do Sinditransporte.