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Educação: uma questão de conteúdo

Quando eu comecei a ter noção das coisas, iniciei a minha indagação no sentido de saber porque eu estudava determinado tipo de conteúdo. Devido à pouca idade, à maturidade intelectual e ao pouco conhecimento não cheguei a nenhuma conclusão.

Com o passar dos anos, apareceram as primeiras pistas e na graduação as primeiras respostas começaram a surgir.

Em seguida, percebi a existência de duas alternativas para responder a minha antiga questão. Uma vinculada à ideia de que os conteúdos educativos colaboram para tornar a pessoa mais erudita e a outra afirmando que eles tem uma utilidade para a vida.

Só no mestrado é que compreendi o real sentido dos conteúdos educativos. Também não sei se esse processo foi totalmente concluído. O fato concreto é que conclui que o embate ideológico para a edificação ou não de uma sociedade melhor perpassa por essa discussão.
Assim, me parece oportuno compartilhar algumas reflexões.

A primeira delas manifesta-se na extinção de uma suposta controvérsia entre a educação erudita (tradição alemã) versus a educação para a vida (tradição inglesa e francesa). Penso que os conteúdos educativos precisam caminhar para as duas direções, de forma simultânea e conflituosa.

Em seguida, os conteúdos devem ter como eixo central o tempo do não-trabalho, o tempo livre. A cultura, o ócio criativo, o lazer devem ser uma espécie de “locomotiva” educacional.

A análise que Domenico de Masi faz sobre a sociedade pós-industrial apresenta ferramentas teóricas suficientes para “superarmos” o paradigma que valoriza a educação para o trabalho.
Sei que meus amigos marxistas e liberais simpáticos a teoria do capital humano não vão gostar muito dessa defesa. Paciência.

O terceiro aspecto refere-se para este debate é a necessidade de identificar o caráter emancipatório dos conteúdos educativos.

Emancipação aqui no sentido dado pela Teoria crítica. Sem misticismos. Desse modo, identificar o viés que possa libertar o ser humano da opressão do capital e realizar um diagnóstico de situação torna-se relevante.

Talvez resida no caráter emancipatório dos conteúdos educativos o principal conflito com as forças políticas conservadores e aliados que atuam na educação.

Para tanto, me parece que a tática da resistência ativa, elaborada por Saviani, permite, em um período de resistência, constituir a hegemonia necessária para as transformações mais abruptas.

Falo isso porque ainda vivenciamos a avalanche causada pelo ideário neoliberal, embora ela encontra-se em um momento de “insuficiência respiratória”.

Contudo, Mészáros, na obra intitulada Educação para além do capital, atenta ao fato de que “Limitar uma mudança educacional radical às margens corretivas interesseiras do capital significa abandonar de uma só vez, conscientemente ou não, o objetivo de uma transformação social qualitativa.” Embora esta formulação possa pôr em risco o conceito de resistência ativa de Saviani, que tem um forte componente gramsciniano, tenho a impressão que é um risco tático que precisa ser corrido.

Vivemos em uma época marcada pela heterogeneidade nas correntes educativas. O que precisa ser feito é buscar nelas os elementos que possam colaborar na direção emancipatória que os conteúdos educativos precisam ter. Em outras palavras, identificar as forças políticas que jogam água no leito emancipatório.

Digo isso porque não há uma homogeneidade nas teorias educativas que fundamentam o establishment.

Assim, pensar educação sem considerar a política significa, além de uma postura ingênua, não compreender o processo em que se deu as diversas concepções educativas ao longo da história.

De igual modo, considerar que a educação é um campo neutro, que está “suspensa no ar”, como se fosse uma categoria transcendental, é não compreender o seu caráter político.
Por isso que os conteúdos educativos precisam estar no centro do debate educacional. Negligenciá-lo é corroborar, de forma inconsciente, com o status quo.

Por fim, a educação é um campo em disputa. É um locus onde a emancipação pode ser constituída. É onde a mudança qualitativa pode ser fecundada.

 

 

Christian Lindberg

Ex diretor da UNE,ex consultor do MEC, Mestre em Educação pela UFS, faz doutorado em Filosofia da Educação na UNICAMP

 

 

 

Fonte: Portal Vermelho

 

 

 

Jorn. FERNANDA MACHADO

Assess. de Imprensa e Comunic. do Sinpro Goiás